Arqueologia
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Construção situada em Jerusalém tem aproximadamente 1.000 anos. Descoberta oferece informações sobre medicina da época
A Autoridade de Antiguidades de Israel (AAI) anunciou, por meio de comunicado oficial, a descoberta de um hospital do período das Cruzadas (1099 – 1291 d.C.) situado no Quarteirão Cristão, na Cidade Velha de Jerusalém. Trata-se de uma estrutura com cerca de 1 000 anos atrás, com pilares e abóbadas que medem mais de seis metros de altura. Segundo a AAI, a construção corresponde a apenas uma parte do hospital: os arqueólogos calculam que o complexo compreendia uma área total de 15 000 metros quadrados.
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CRUZADAS
As cruzadas foram expedições armadas comandadas por potências cristãs da Europa, com o objetivo de reconquistar territórios que foram dominados pelo islamismo, mas eram considerados sagrados pelos cristãos, como Jerusalém. Foram 200 anos de guerra do mundo cristão contra o mundo muçulmano. Grande parte dos historiadores defende que as Cruzadas geraram uma violência que contribuiu para a rivalidade entre muçulmanos e cristãos nos anos decorrentes. Além disso, os europeus não alcançaram seu objetivo inicial. A rica troca de tradições que aconteceu durante o período, introduzindo ao universo ocidental diversos elementos da cultura oriental, porém, é considerada um aspecto positivo das Cruzadas.
Em desuso há aproximadamente dez anos, o local antes abrigava um movimentado mercado de frutas e verduras. Depois disso, permaneceu abandonado, até surgir o interesse de uma empresa em transformar a estrutura em um restaurante. Isso levou às explorações arqueológicas, que descobriram a antiga existência do hospital no local.
De acordo com a AAI, os arqueólogos aprenderam mais sobre a história do ambulatório por meio de documentos da época – a maior parte deles escrita em latim.
Ordem de St. John — “Os documentos mencionam a existência de um sofisticado hospital construído por uma ordem militar cristã denominada Ordem de St. John do Hospital de Jerusalém”, contam os israelenses Renee Forestany e Amit Re’em, coordenadores da escavação. Há indícios de que o hospital tenha sido construído por um grupo de monges beneditinos que tinham como objetivo cuidar dos peregrinos cristãos que participavam das expedições à Jerusalém.
Ao longo do tempo, a Ordem de St. John evoluiu e passou por inúmeras reestruturações. Em 1888, na época da Revolução Industrial, a Rainha Victoria, da Inglaterra, incorporou a Ordem à realeza inglesa e, atualmente, a Rainha Elizabeth II é a “cabeça soberana” da Ordem de St. John, ou seja, uma espécie de líder. Apesar de seu caráter cristão, hoje não é mais preciso ser religioso para integrar a organização, como era em sua origem. São 25 000 membros da Ordem ao redor do globo. E, para se tornar um deles, é necessário ter seu mérito reconhecido pela Rainha.
A Ordem conta com oito monastérios ao redor do mundo, além de manter um hospital oftalmológico de caridade localizado na parte leste de Jerusalém, chamado Hospital do Olho de St. John.
Medicina — Apesar da estrutura encontrada se assemelhar muito a dos hospitais modernos — com divisão de alas e departamentos conforme as diferentes enfermidades, e capacidade para atender até dois mil pacientes — os documentos revelam que a medicina da época ainda se encontrava em um estado bastante rudimentar. Em um dos relatos recuperados, uma testemunha narra o caso de um soldado cristão que morreu após ter sua perna amputada por conta de um pequeno ferimento.
“Isso acontecia porque, naquela época, os árabes já tinham conhecimentos médicos mais avançados, enquanto a medicina europeia ainda era muito ligada à religião”, explica Rodrigo Rainha, doutor em História Medieval pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em entrevista ao site de VEJA. “Então, em um caso como esse, o árabe poderia olhar para a perna e dizer apenas que teriam que fazer um torniquete, mas o europeu cristão tinha que saber o que o padre (que agia como médico) achava. Esse padre provavelmente disse que a perna deveria ser cortada, porque aquela ferida era a presença do mal no corpo do indivíduo, e assim amputaram a perna do soldado que, é claro, faleceu.”
Para Rodrigo, a descoberta oferece uma nova percepção em relação à organização dos cruzadistas. “Até hoje, não existiam indícios de hospitais dessa época e nessa região, especificamente”, afirma. Ainda segundo o professor, a existência do hospital pode ser considerada uma espécie de pequeno símbolo das trocas culturais que aconteciam no período. “As Cruzadas são frequentemente lembradas pela violência e invasão, mas elas também tiveram como resultado uma troca de tradições: foi um verdadeiro encontro de mundos diferentes, que permitiram a transformação daquela região.”
(Com agência EFE)