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Explorar centro da Terra já é viável

Em artigo na ”Nature”, cientistas europeus afirmam que tecnologia desenvolvida pela indústria petrolífera permite perfurar crosta até o manto

Giovanna Montemurro – estadão.com.br

SÃO PAULO – É possível fazer uma viagem ao centro da Terra ou, ao menos, ao seu início. É o que afirma um grupo de cientistas em artigo publicado na revista Nature. Segundo eles, as tecnologias existentes já são suficientes para perfurar a crosta terrestre até a camada inferior, o manto – que representa 68% da massa da Terra e permanece inexplorado. O objetivo é entender melhor a estrutura da Terra, a ocorrência de terremotos e aprimorar a exploração mineral.

Os cientistas propõem, na prática, a retomada da primeira expedição para perfuração científica no oceano, que ocorreu há 50 anos, em abril de 1961, chamada Projeto Mohole. Embora não tenha sido bem-sucedida em seu objetivo de atravessar toda a camada rochosa que forma a crosta, essa expedição conseguiu, com os dois quilômetros perfurados a partir do subsolo em alto-mar, desenvolver a tecnologia que hoje ajuda as petrolíferas a explorarem campos de petróleo como o da camada de pré-sal de Tupi, na Bacia de Santos.

Segundo Benoit Ildefonse, da Universidade de Montpellier II, da França, um dos autores do artigo juntamente com Damon Teagle, da Universidade de Southampton, da Grã-Bretanha, “graças às companhias de petróleo, agora temos a tecnologia para perfurar a distância necessária para chegar ao manto”.

O objetivo agora é ultrapassar o marco de 2.111m – máximo que já se conseguiu chegar até hoje – e perfurar os seis quilômetros necessários para atravessar toda a crosta em seu ponto mais fino, abrindo um buraco de 40 centímetros que poderá ficar aberto por muitos anos.

O melhor ponto de escavação deve ter a menor espessura de crosta possível. No entanto, nesses pontos com a chamada “alta taxa de espalhamento” a crosta ainda está muito quente, pois sua formação é recente, o que dificulta a perfuração. Dessa forma, de acordo com Ildefonse, eles conseguiram limitar as possíveis locações a três áreas – costa do Havaí, da Baixa Califórnia e da Costa Rica, todas no Pacífico -, onde a espessura é a mais fina possível e a temperatura da placa, suficientemente fria.

Compreensão. “Com essa análise direta a partir dos resultados da perfuração, nós poderemos calibrar nossos dados indiretos e saber exatamente onde está o limite crosta/manto, fabricando um melhor modelo de Terra”, afirma Ricardo Trindade, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). “É justo dizer que em muitos aspectos conhecemos mais sobre espaço do que sobre o nosso próprio planeta.”

Segundo Ildefonse, saber mais sobre o manto poderá ser valioso para a compreensão dos terremotos, momento de convergência das placas tectônicas, formação das placas no oceano e sua participação no ciclo químico do planeta – incluindo o ciclo do carbono.

George Sand, do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), afirma que a “pesquisa terá um impacto enorme sobre a exploração mineral”. Segundo ele, a perfuração poderá encontrar novas jazidas, além de ajudar na tecnologia de exploração.

No entanto, mesmo com a avançada tecnologia petrolífera que levou ao desenvolvimento do navio Chikyu, que será usado para a perfuração, ainda assim serão necessários pelo menos 10 anos de pesquisas antes do início dos trabalhos. Isso porque parte da tecnologia terá de ser adaptada para a enorme pressão e temperatura que os aparelhos encontrarão em maiores profundidades.

Além disso é necessário garantir o financiamento. “Dependemos muito da vontade política pois a quantidade de dinheiro necessária para esse projeto é muito grande”, diz Ildefonse, lembrando que o Brasil já fez parte dos países que financiaram o projeto durante a década de 1980.

Entenda: Petrolíferas chegam a 12 km

As empresas petrolíferas já conseguem perfurar enormes profundidades para chegar às reservas de óleo e gás. Segundo Kazuo Nishimoto, do Departamento de Arquitetura Naval e Engenharia Oceanográfica da USP, a perfuração mais profunda desse tipo foi de 12km.

No entanto, esse tipo de perfuração é diferente daquela que o Projeto Mohole pretende fazer. Isso porque, embora escavem grandes distâncias, as companhias estão perfurando apenas sedimentos, que têm menor resistência e baixas temperaturas, apresentando um menor desafio técnico para os equipamentos de perfuração. Essa maior camada de sedimentos é característica das regiões costeiras e de alguns outros pontos do relevo oceânico.

Além disso, as companhias de petróleo perfuram a uma profundidade do chamado espelho d’água de cerca de 2km. As regiões que o Projeto Mohole pretende explorar estão a 4km de profundidade, aumentando a pressão sobre o equipamento de escavação e gerando a necessidade de tubulações mais longas e resistentes que ainda não foram desenvolvidos, segundo Ildefonse.

Sendo assim, o projeto busca regiões específicas onde o acúmulo de sedimentos é menor e a crosta mais fina, perfurando praticamente apenas o chamado embasamento, rocha dura que forma a crosta. Nesta camada, o mais longe que já se conseguiu perfurar foram 2.111 m.

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Rev. Ângelo Medrado, Bacharel em Teologia, Doutor em Novo Testamento, referendado pela International Ministry Of Restoration-USA e Multiuniversidade Cristocêntrica é presidente do site Primeira Igreja Virtual do Brasil e da Igreja Batista da Restauração de Vidas em Brasília DF., ex-maçon, autor de diversos livros entre eles: Maçonaria e Cristianismo, O cristão e a Maçonaria,A Religião do antiCristo, Vendas alto nível, com análise transacional e Comportamento Gerencial.

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Japoneses criam os primeiros espermatozoides em laboratório

24/03/2011 – 08h51

Folha.com

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Cientistas do mundo inteiro tentavam há quase um século, mas só agora um grupo conseguiu: pela primeira vez na história foi possível criar espermatozoides de um mamífero em laboratório.

A experiência foi feita com camundongos, mas o objetivo é adaptar a técnica para resolver problemas de fertilidade em seres humanos.

Os espermatozoides, criados por pesquisadores japoneses da Universidade da Cidade de Yokohama, conseguiram dar origem –por meio de fertilização in vitro– a descendentes, machos e fêmeas, saudáveis e férteis.

Isso aconteceu até quando as células colhidas haviam passado algum tempo congeladas. É um fator que tradicionalmente atrapalha o sucesso da fertilização.

Para chegar ao resultado, os cientistas retiraram, por meio de uma biópsia, células dos testículos de camundongos recém-nascidos, com dois ou três dias de vida.

Esse material tinha apenas gonócitos e espermatogônias, estágios primitivos do complexo processo de formação dos espermatozoides.

Os cientistas tentaram fornecer quase todos os componentes da formação natural das células. Para que elas se desenvolvessem totalmente, eles adicionaram KSR, produto muito usado em culturas de células-tronco.

Após cerca de um mês, eles confirmaram a produção dos espermatozoides. As culturas continuaram produzindo essas células durante cerca de dois meses.

Editoria de Arte/Folhapress

CÂNCER

O sucesso da técnica em camundongos animou os cientistas. Um dos futuros objetivos da pesquisa é oferecer uma alternativa para preservar as células reprodutivas de crianças e jovens que precisam ser submetidos a tratamentos que podem causar infertilidade, como quimioterapia e radioterapia.

Para um organismo masculino completamente desenvolvido pode ser fácil conseguir farta quantidade de espermatozoides. Em crianças, o processo de maturação não está concluído, o que torna isso mais difícil.

O novo método também poderia ser aplicado em situações em que a infertilidade masculina é causada por outras razões.

Em certos casos, os homens conseguem completar com sucesso as etapas iniciais da divisão celular que origina o espermatozoide. É na hora de completar a etapa de maturação, porém, que algo sai errado e eles não conseguem gerar espermatozoides férteis.

IN VITRO

Pesquisas anteriores sugerem transplantes de células-tronco no tratamento contra a infertilidade. Tecnicamente, isso provavelmente seria possível com os espermatozoides criados em laboratório, gerando filhos pela "maneira tradicional".

Ainda assim, seriam necessários muitos outros testes para verificar a segurança dos transplantes.

Os criadores do esperma de laboratório pretendem usar fertilização in vitro, mas não há previsão de quando o método possa chegar ao público.

De acordo com especialistas, ainda é necessário cautela e, principalmente, mais testes para verificar se os descendentes produzidos com as células de laboratório são realmente saudáveis.

"A prole ser fértil é apenas um indicador bruto de que os gametas são "normais’", dizem os geneticistas Marco Seandel e Shahin Rafii, em crítica também na "Nature".

"Pesquisas devem ser feitas para saber se os descendentes da fertilização in vitro são saudáveis em outros aspectos (envelhecimento, sistema imune e outros)."

ESTUDO COMPLEXO

Embora seja a menor célula do corpo humano, o processo que produz o espermatozoide –conhecido como espermatogênese– é complexo e leva mais de um mês.

Seu tamanho diminuto e a complexidade de sua estrutura mantiveram muitas de suas propriedades em segredo até agora.

Na semana passada, pesquisadores finalmente anunciaram como o espermatozoide é atraído para o óvulo uma espécie de poro das células "sentiria" a presença de progesterona e dispararia o mecanismo.

O sucesso com os camundongo abre as portas para a experiência em humanos, mas ainda não há previsão disso. "Estou confiante que conseguiremos aplicá-la [a técnica] em animais maiores", disse Takehiko Ogawa, chefe do trabalho.

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Eja, eêja/ Cientistas contra a Igreja

Fonte Estadao.com

Células-tronco são cantadas em verso e prosa

por Renato Terra

Eram 11h15 do último sábado de janeiro quando a atriz Larissa Câmara irrompeu no palco com uma cintilante peruca loira, despenteada à la Ana Maria Braga. Afinou as cordas vocais num timbre à laMarília Gabriela e saudou o público: “Bom-dia! Estamos iniciando mais um programa Comece o Dia Bem! Vamos fazer um exercício: abra os olhos, encha o peito de ar, respire. Ah, respire! Sorria! Hoje vamos mostrar uma grande revolução na pesquisa científica: as células-tronco. Uma promessa de esperança ou um marco na medicina?”

Enquanto a voz loira ressoava pelo auditório, Catarina Chagas suspirava aliviada: “Ufa, encheu.” Catarina é uma das coordenadoras do projeto Sarau Científico, em fase de implantação no Museu da Vida, instituição que fica dentro da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. A Fiocruz, como é mais conhecida, é um oásis científico localizado no início da avenida Brasil, no bairro de Manguinhos. O local é cercado por favelas e a população sofre tanto com o banditismo que a região ganhou o apelido de Faixa de Gaza. A apreensão de Catarina deveu-se ao fracasso de quórum da edição anterior, cuja data coincidiu com a onda de ataques pela cidade que culminou com a tomada do Complexo do Alemão pelo Exército, em dezembro passado. Dessa vez, numa manhã em que as únicas chamas na Zona Norte do Rio vinham do alucinante sol de verão, cerca de 100 espectadores puderam chegar com calma e tomar quase todos os assentos do auditório.

Um cartaz pendurado na porta da Fiocruz apresentava o “Sarau científico: as células-tronco em cena” como “um debate quente, temperado com encenações, músicas, poesia e muito humor” e definia o público-alvo: jovens a partir de 15 anos. E foi nesse diapasão que o programa Comece o Dia Bem! apresentou o quadro seguinte: a “Valsa das células-tronco”.

Num ambiente de baile de debutantes, atores dançavam no fundo do palco ao som da valsa de A Bela e a Fera, enquanto a apresentadora explicava que “as células-tronco podem se transformar em outros tipos de célula” e também “podem se multiplicar gerando células idênticas à original”.

Após sequências em que heróis feitos de vasos sanguíneos, neurônios e células ósseas encenavam acidentes para demonstrar o poder regenerador das supercélulas, chegou a vez de testar a concentração da plateia. Com uma pitada de apreensão, a apresentadora anunciou: “Hoje o programa Comece o Dia Bem! tem o prazer de convidar o biólogo Daniel Veloso Cadilhe, do Laboratório Nacional de Células-tronco Embrionárias, sediado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, para responder às perguntas da plateia.”

O que poderia ser uma brecha para os insones cerrarem os olhinhos ganhou ritmo ágil: as primeiras perguntas foram lidas por monitores e as respostas de Daniel foram claras e certeiras. Nas perguntas vindas do público – quando o temido louco de palestra sempre está à espreita –, surgiram questões gerais como: “A nível de Brasil, em que pé estamos? E a nível de queimaduras?” Quando a pergunta era ininteligível ou caminhava rumo ao infinito, os atores intervinham rapidamente.

O projeto Sarau Científico é financiado pela fundação britânica Wellcome Trust. A cada edição, aborda um tema diferente, sempre polêmico. A primeira tratou dos transgênicos, e a seguinte abordou o uso dos animais em pesquisas científicas. Serão cinco edições ao todo. A entrada é gratuita. O projeto fica sob responsabilidade da diretora do Museu da Vida, Luisa Massarani. “Queremos trazer para cá os jovens de baixa renda que moram no entorno. É um público mais difícil de conquistar, pois tem outros interesses. Por isso, optamos por uma linguagem mais coloquial com música, teatro e dança”, explica Luisa, que levou a mãe e a irmã ao sarau.

Não à toa, a produção julgou conveniente colocar um funk na sequência do quadro com perguntas ao biólogo Daniel Cadilhe. Glamorosa, a Lady Biossegurança subiu ao palco para sacudir a massa e, de quebra, explicar os percalços pelos quais a Lei de Biossegurança passou até atingir o formato atual: “Minha história é polêmica, vou te dizer, criança/ Causei na religião, política e até na segurança/ Vou mandar a real, vou dizer qual é o ponto/ Regulei a pesquisa com célula-tronco”, começava. Depois de usar “aperte o cinto” para dizer que foi aprovada “em 2005” e citar “sua mãe e sua tia” para ressaltar que a aprovação foi apenas “para fim de terapia”, emergiu um refrão – cantado em coro pelos atores –, resumindo o embate ideológico entre as correntes que mais divergiram sobre a regulamentação das pesquisas com células-tronco embrionárias: “Ato aáto/ Será que é assassinato?/ Ito, iíto/ Vai rolar conflito/ Eja, eêja/ Cientistas contra a Igreja!”

Além da discussão religiosa, outros pontos polêmicos foram levantados. Um vídeo no telão mostrou um trecho do Globo Repórter que contava a história de Daniela, uma jovem tetraplégica que desembolsou 40 mil dólares em um tratamento com células-tronco na China. Dois anos depois, Daniela não apresentou melhoras significativas. O vídeo produziu questionamentos na plateia e o sempre alerta Daniel Cadilhe voltou aos holofotes para responder a mais algumas questões. Deixou claro que o tratamento com células-tronco ainda é experimental e, portanto, seria antiético cobrar dos pacientes.

Para o grand finale, o grupo É o Tchun, formado pelos atores, tentou colocar a plateia de pé para dançar uma coreografia. “Oi, pega a célula/ Bota a célula/ Injeta a célula/ Para experimentar/ Oh lalá.” A adesão não foi das maiores. Nem mesmo pedindo ajuda dos monitores, que subiram ao palco, foi possível vencer a timidez do público. Apenas oito pessoas se levantaram e duas arriscaram a coreografia.

Quem trabalha com divulgação científica tem que estar preparado para encontrar maneiras mais empíricas de medir a satisfação de seu público. Na saída, foi distribuído um formulário para cada espectador avaliar o que viu e sugerir novidades para os próximos saraus.  Como nem tudo deve ficar barato, uma menina de 14 anos fez questão de registrar sua indignação no formulário com “a sacanagem que fizeram com a Daniela, ao cobrar por uma coisa que não deu certo”.

O campo livre no formulário – onde o espectador poderia sugerir temas para os próximos saraus – mostrou como a discussão científica é rica. Abrigou desde temas correntes como “reciclagem”, “evolução” e “eutanásia”, como também “efeitos das radiações ionizantes”, “uso de ervas para curar doenças”, “ciência forense” e “polvo” (isso mesmo: “polvo”). Catarina terá um imenso leque de possibilidades para os próximos saraus. Quem sabe a dança do tubo de ensaio ou o reggae das ervas medicinais?