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Após críticas de evangélicos, secretaria do governo defende plano de direitos humanos

 

DE BRASÍLIA

A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência divulgou nota nesta quinta-feira defendendo o PNDH-3 (Plano Nacional dos Direitos Humanos), que vem sofrendo bombardeio de setores evangélicos.

De acordo com a secretaria, o plano "é resultado de um processo histórico e democrático, com propostas debatidas e aprovadas (…) com ampla participação da sociedade civil".

A secretaria diz ainda que o PNDH-3 "não trata da legalização do aborto", "preza pela liberdade e tolerância religiosa" e "reitera a liberdade de expressão e de comunicação, respeitando os direitos humanos".

Um dos principais críticos do plano é o ex-governador Anthony Garotinho (PR-RJ), que tem pressionado a candidata Dilma Rousseff (PT) a esvaziá-lo. A bancada evangélica eleita para o Congresso já definiu como uma de suas prioridades trabalhar pela extinção do programa, enviado ao Legislativo pelo governo.

Após forte reação, o governo tirou do programa, em maio, pontos como a revisão da lei que pune quem se submete ao aborto.

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Onda verde ou onda crente?

 

Dr. Zenóbio Fonseca

Candidatos estão virando madre ou padre para convencer os cristãos.

Estamos vivendo um fenômeno eleitoral jamais visto numa eleição presidencial, onde os votos dos cristãos são disputados em todos os rincões do Brasil, e o motivo principal foi que uma “agenda de valores” tomou conta da pauta de discussão do rumo da nação.

Esse fato deve-se a melhoria do padrão de vida das pessoas carentes, onde a discussão principal era sobre condições basilares de sobrevivência, mas o amadurecimento da democracia tem gerado nos cidadãos a preocupação de discussões de valores inerentes á sua fé, que é guiada por princípios e dogmas, tal como aborto, ensino religioso ou “casamentos” de homossexuais.

Nesse caminho, acharam, como em outras eleições, que era possível ignorar a força numérica, eleitoral e demográfica da religião no Brasil, onde em sua grande maioria está estampado o vínculo cristão, e, em particular, a defesa da vida desde a concepção.

Daí, toda a gritaria na imprensa escrita e falada sobre o tema do aborto, pois nos últimos anos alguns grupos defendiam políticas públicas de descriminalização do aborto, ou seja, tornar o aborto (interrupção da gravidez) não punível pelo Estado, bem como instituir o chamado “direito de escolha” pelas mulheres, onde a mulher grávida poderia escolher livremente realizar o aborto e livrar-se do fruto do seu ventre.

Entretanto “esqueceram-se de combinar” com os cristãos que esse assunto não seria decisivo para eleger o próximo presidente.

O grande momento que estamos vivendo está fundamentado no princípio bíblico de conhecer a verdade e a verdade trazer libertação. As informações dos blogs e sites cristãos e vídeos temáticos postados no site YouTue inauguraram a “chamada onda crente” dos votos (e não onda verde como alguns afirmavam), onde os evangélicos descobriram a importância do voto consciente fundamentados em valores e dogmas de fé e cidadania. Tal fato fez a diferença, levando as eleições para o atual segundo turno de discussão.

Isso é tão cristalino que os atuais candidatos a presidente buscam os votos dos evangélicos e católicos, porque esse segmento está decidindo a eleição presidencial. O mais triste disso tudo é ver que tem candidato mudando de discurso tornando-se quase uma freira ou padre, para dizer que são cristãos desde que nasceram. De igual forma, alguns líderes seguem o mesmo caminho.

Uma coisa é certa: DEUS entrou nessas eleições presidenciais, ouviu a orações de muitos que não se curvaram ao sistema do poder temporal e os votos de cabresto estão com os dias contados dentro do segmento evangélico. Viva a informação e a autonomia do voto cristão.

Publicado no Jornal Unidade

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PRESSÃO É POR PODER E NAO FÉ

Fonte: Creio

Analista analisa pressão de católicos e evangélicos sobre abrto

    A pressão de setores religiosos – principalmente evangélicos – sobre uma definição contra o aborto da campanha da presidenciável Dilma Rousseff (PT) não tem motivação religiosa, mas é uma forma de barganhar por poder, avalia a cientista Maria das Dores Campos Machado. Ela destaca que, neste segundo turno presidencial – nem Dilma, nem José Serra (PSDB) têm perfil religioso. Para ela, qualquer um dos dois tem chances de ganhar o apoio desses grupos por negociação.

– Eu percebo que existe um pragmatismo muito grande nos grupos religiosos. Eles sabem que estão lidando com dois candidatos que não são religiosos.

Para a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os pastores viram na polêmica uma chance de se estabelecerem na política.

– É um jogo e o que estas lideranças querem mostrar é que estão sendo reconhecidas.

Autora dos livros "Os Votos de Deus" e "Política e Religião", Maria das Dores é diretora de um núcleo de estudos sobre religião e política. Em entrevista a Terra Magazine, ela critica o uso da discussão em torno da descriminalização do aborto nas eleições. "O fato de isso aparecer na eleição, mostra como o debate na sociedade é incipiente". "Esse tema está sendo usado na eleição porque a sociedade não tem uma posição clara".

Leia a entrevista na íntegra.

Terra Magazine – O que a senhora está achando do fato de os votos dos religiosos entrarem no centro dessa disputa pelo segundo turno? A questão do aborto, principalmente, está se tornando crucial para os presidenciáveis.
Maria das Dores Campos Machado –
A religião sempre teve uma dimensão muito importante na cultura brasileira e aparece sempre em momentos importantes das eleições. Nos últimos anos, o movimento feminista conquistou alguns avanços junto ao Poder Executivo, há a questão do Plano Nacional de Direitos Humanos. Isso expressava um certo avanço dos setores mais progressistas do governo. O que há é uma reação dos grupos conservadores. Você não tem nenhum grupo religioso com uma única posição com relação às candidaturas que estão representadas agora. Tanto os evangélicos como os católicos estão divididos. Eles também percebem que a própria candidatura de José Serra também tem mais afinidade com posturas mais liberais. Ele já foi ministro da Saúde, tem medidas que facilitaram a contracepção de emergência.

Como é essa divisão?
No caso de Serra, os contatos que ele mantém são muito mais graças ao Geraldo Alckmin, que é um católico mais conservador, e alguns movimentos de renovação carismática muito ligados ao Geraldo Alckmin no interior de São Paulo. No caso de Dilma, a candidatura dela tem o apoio tanto do bispo Edir Macedo (líder da Igreja Universal) como do bispo Manoel Ferreira, que é uma grande liderança da Assembleia de Deus. Mas há uma grande resistência de grupos mais conservadores e grupos que não conseguem estabelecer um canal direto com as grandes candidaturas. Não se pode esquecer que os evangélicos têm um caráter muito pragmático. Eles sabem estabelecer uma separação entre o que é do mundo legislativo e o que é essa doutrina religiosa. Nesse sentido, eu acho que existe possibilidade de os dois candidatos conquistarem apoio desses grupos para além da visão ideológica ou da visão mais doutrinária de ser contra ou a favor do aborto. Eles sabem muito bem que eles estão lidando com dois atores políticos que não são religiosos, mas que podem dialogar com suas lideranças e podem dar um tratamento de ouvir mais essas lideranças na maneira de encaminhar o debate do aborto.

Mas essa possibilidade de negociar com os dois lados independe, então, da questão religiosa em si?
Eu percebo que existe um pragmatismo muito grande nos grupos religiosos. Até o final dos anos 90, o Lula era visto como um representante do "demônio" por vários pastores. Os pastores diziam que o Lula era endemoniado. Eu lembro que, na campanha em que o Lula foi vitorioso, o bispo Carlos Rodrigues disse: Nós criamos o veneno – que era considerar o Lula um demônio – nós vamos criar o antídoto. Existe por parte das lideranças certo pragmatismo. Uma vez convencidos de que as alianças políticas podem ser proveitosas para os seus grupos, eles podem rever toda a posição.

Mas esse apoio não iria, neste caso, ao candidato que se comprometesse a não descriminalizar o aborto?
Sim. O que eu estou querendo dizer é que esse tipo de intervenção – como o do pastor Malafaia (que declarou voto em Serra) – é criado em função de entenderem que eles estariam tendo uma maior capacidade de influência junto à Dilma ou ao Serra. Eu acho que há um pragmatismo aí por trás. Eu acredito que o pastor Silas Malafaia, quando declara o seu voto, ele é uma pessoa que faz a opinião pública. É um caráter extremamente pragmático. Eu acho que ele está aí tentando se cacifar no jogo da política. Ele não é só um ator religioso. Tem aí também um jogo das lideranças religiosas no sentido de serem reconhecidas enquanto atores políticos, atores que vão estabelecer uma série de acordos e vão ter acesso ao cenário político. A questão doutrinária é colocada na mesa para negociar ou para forçar um reconhecimento enquanto ator político.

Colocar essa questão do aborto às vésperas da eleição é uma ação eleitoreira? Em especial, o questionamento direto feito à postura da candidata Dilma por ela não ter se definido sobre o tema.
Existem coisas que acontecem dentro das igrejas. E existem coisas que, da Igreja, são levadas para a mídia. Que a mídia tem mais simpatia pela candidatura do Serra, isso é inegável. Mas, por exemplo, o Silas Malafaia está distribuindo CDs e DVDs contra o aborto. O que é curioso é que, por exemplo, não houve uma discussão em torno da homofobia – que também é um tema difícil. Por quê? Porque os homossexuais têm uma mobilização dentro da sociedade, então eles conseguem dar uma resposta de pronto, acionando a Justiça. Eles têm uma capacidade de mobilização muito maior que o movimento a favor do aborto. No caso dos homossexuais, por mais que os líderes religiosos sejam contra, eles não conseguem interferir nesse debate e nem trazer isso para o momento eleitoral. São temas que estão sendo usados porque a sociedade civil brasileira ainda não tem uma posição clara com relação ao aborto. Então, permitiu que esse tema fosse usado dessa forma.

Data: 14/10/2010
Fonte: Dayanne Sousa/Terra