“Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção. Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade.” (Ef 4:30,31)
Este é um tema muito debatido em círculos cristãos, e aqui apresento uma visão panorâmica à luz da Bíblia do que são os pecados contra o Espírito Santo.
Resistência ao Espírito Santo
Este pecado contra o Espírito Santo pode ser compreendido pelo modo como Estevão terminou o seu sermão: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo” (At 7:51). Resistir ao Espírito Santo é recusar, de forma consciente, a sua vontade divina transmitida por Ele.
Entristecer ao Espírito Santo
Na epístola aos efésios está escrito: “Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção. Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade.” (Ef 4:30,31)
Como podemos entristecer o Espírito Santo?
Entristecemos o Espírito Santo quando estimulamos as obras da carne por meio da conversação maligna e corrupta, da linguagem impura e pecaminosa. Ademais, muitos entristecem o Espírito Santo quando se esquecem que Ele nos convence do pecado, levando-nos próximos à justiça e ao juízo, e assim, quando não aceitamos a correção do Espírito e insistimos em praticar coisas que entristecem o Espírito de Deus, Ele se entristece, afinal, Ele é uma Pessoa.
Mentir ao Espírito Santo
A mentira ao Espírito Santo está categoricamente exemplificada na passagem em que Pedro, pelo Espírito, denuncia a mentira de Ananias e Safira:
“Disse, então, Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade?” (At 5:3)
O sentido da palavra “mentira” em Atos 5:3 corresponde a “contar uma falsidade como se fosse verdade”. Quem mente ao Espírito Santo menospreza a sua deidade. Ele é Deus!
Extinguir o Espírito
O apóstolo Paulo, escrevendo aos tessalonicenses, exortou-os: “Não extingais o Espírito” (I Ts 5:19). Assim acerta o pastor e escritor Hernandes Dias Lopes, quando em seus livros e palestras afirma que deve haver um equilíbrio entre fervor espiritual e conhecimento teológico, pois quando temos conhecimento sem fervor, pode-se gerar em nós certo formalismo. Já fervor sem conhecimento pode gerar fanatismo. Desta feita, muitos nos últimos anos têm escrito acerca deste equilíbrio que deve haver na Igreja, entre a exposição da Palavra e a ação do Espírito Santo. Se por um lado não podemos concordar com as meninices e com o fanatismo, por outro não haveremos de nos conformar com um cristianismo ritualista e árido, que anule a ação do Espírito.
Como crentes fundamentados na Palavra e no equilíbrio, devemos buscar a ação do Espírito, baseado na Palavra, pois ela é a voz do próprio Espírito. Em suma, quando se perde a essência do cristianismo, apaga-se o amor, o que, por conseguinte, gera uma vida cristã apática, sem vida no Espírito. Para que não venhamos a extinguir a ação do Espírito, devemos sempre permanecer como os apóstolos: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At 2:42).
Blasfêmia contra o Espírito Santo
“Portanto, eu vos digo: toda forma de pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro.” (Mateus 12.31-32)
A orientação apresentada por Jesus neste relato difere a blasfêmia contra o Espírito Santo de todos os outros tipos de pecado dentro da narrativa bíblica. Desta feita, é preciso analisar, à luz da exegese do Novo Testamento, a relação das expressões usadas neste período. A tradução da versão inglesa King James traduz a expressão passa hamartia por “toda forma de pecado”.
É evidente, no entanto, que o sentido da expressão é “toda outra espécie de pecado”. Portanto, a blasfêmia contra o Espírito Santo não está inclusa nesta expressão. As traduções de João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Atualizada no Brasil (Sociedade Bíblica do Brasil) e Revista e Corrigida, vindo literalmente do grego, trazem-nos que todo pecado, obscurece o sentido mais amplo. Todavia, existem várias possibilidades sobre o que realmente é blasfemar contra o Espírito Santo. Acerca deste tema tão difícil, começam a surgir várias opiniões, como por exemplo, o que ocorre entre alguns dos pentecostais extremados, os quais afirmam que “blasfemar contra o Espírito Santo” é:
1) Descrer, duvidar de alguém que fala em línguas;
2) Rir ou escarnecer;
3) Não crer na ação do Espírito Santo durante o culto;
4) Duvidar de qualquer coisa que seja sobrenatural.
Por outro lado, os cessacionistas (os que não creem em dons), ou os mais tradicionais, chegam a afirmar que os exageros do movimento pentecostal ou do neopentecostalismo não deixam de ser uma espécie de blasfêmia contra o Espírito Santo. Contudo, tanto os ultrapentecostais como os cessacionistas, ou tradicionais extremados, demonstram muito exagero e até mesmo fanatismo na exposição destas opiniões, ausentes de coerência teológica. Poucos se detêm a examinar o contexto das passagens bíblicas alusivas à blasfêmia contra o Espírito Santo, como acontece na maioria dos casos dos assuntos aparentemente divergentes na Bíblia.
A análise do texto elucida alguns pontos aos quais devemos nos atentar. Os textos relevantes são encontrados nos três primeiros evangelhos, chamados “evangelhos sinóticos” (que devem ser vistos em conjunto). Em Mateus 12, as afirmações de Jesus sobre blasfemar contra o Espírito Santo ditas foram quando Ele curou um homem possesso de demônios cujo domínio o havia feito cego e mudo. Em Marcos 3, a cura não é mencionada; Lucas registra a cura no capítulo 11, e menciona a blasfêmia contra o Espírito Santo em 12:10.
Considerar o mal como bem ou que luz eram trevas, era prática comum entre os fariseus. Esse ato traz em si mesmo um alerta anunciado pelo profeta Isaías (Is 5:20), e agora reinterpretado por Jesus como blasfêmia contra o Espírito Santo.
Ao longo da história, muitos estudiosos emitiram sua opinião sobre este tema. Segundo Irineu, blasfêmia contra o Espírito Santo seria a rejeição do evangelho. Para Atanásio, a negação da divindade de Cristo, a qual teve sua evidência ao homem pela concepção do Espírito Santo. Já para Orígenes, toda a quebra da lei após o batismo. Finalmente, Agostinho acreditava que a blasfêmia contra o Espírito representada era pela dureza do coração humano, rejeitando a obra de Cristo.
Vemos que a acusação feita contra Jesus em Mateus 12:24 (“Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios”) denuncia, erroneamente, que ele não passa de um simples curandeiro, cujos exorcismos são feitos pelo poder do Maligno, acusação que se repete nos evangelhos. Contesta-se, assim, o verdadeiro significado e a semântica do poder e das obras do Messias. Não vemos, no texto, a negação da realidade do milagre, mas a acusação de que o mesmo é diabólico, negando-o como sinal do poder soberano de Deus.
A reação de Jesus acontece por meio de uma série de parábolas rápidas que demonstram ser ilógico pensar que Satanás daria poderes a
Jesus a fim de destruir a si próprio. A última parábola (Mt 12:29), acerca de apoderar-se dos bens do valente, pode ser uma alusão a Isaías 49:24-25, em que Deus descreve a salvação futura com o mesmo tipo de figura de linguagem.
A existência de um pecado imperdoável tem mexido com a mente dos cristãos em todo mundo e em todos os séculos do cristianismo. Podemos observar, no contexto apresentado pelo evangelista, que a advertência de Jesus dirige-se contra os que rejeitam sua mensagem, ao chamá-la de satânica. No entanto, vemos que, se há preocupação pelo fato de que algo possa eliminar o ato do perdão de Cristo, isso é, ironicamente, evidência de que o homem crê em Cristo, e que o mesmo fora enviado por Deus, provando que tal pessoa, Jesus, não cometera o pecado contra o qual o Senhor adverte.
A blasfêmia contra o Espírito Santo é rejeitar a Graça preciosa para a salvação em Jesus Cristo.
Desta forma, podemos concluir que apenas aqueles que se declaram apáticos às boas novas do Cristo poderiam blasfemar contra o Espírito Santo, e não os cristãos, conforme recomendação do apóstolo Paulo em Efésios 4:17-22: “E digo isto, e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade da sua mente. Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração; os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para com avidez cometerem toda a impureza. Mas vós não aprendestes assim a Cristo, se é que o tendes ouvido, e nele fostes ensinados, como está a verdade em Jesus; que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano (…)”.
Acerca desse terrível pecado, o mundialmente pregador Billy Graham declara em seu livro “O Espírito Santo“, nas páginas 134 e 135, o seguinte: “O pior pecado que um ser humano pode cometer contra o Espírito Santo é blasfemar contra Ele. A razão disto é clara: para este pecado não há perdão. Todos os outros pecados contra o Espírito Santo são cometidos por crentes. Podemos nos arrepender deles, receber perdão, e fazer um novo começo. Com a blasfêmia contra o Espírito Santo é diferente. Este pecado, chamado de “o pecado imperdoável”, é cometido por descrentes Os inimigos de Jesus, quando O acusaram de expulsar demônios pelo poder de Satanás apesar de Ele ter dito antes que os expulsava pela poder do ‘Espírito de Deus’, cometeram este pecado. Então Jesus continuou: ‘Por isso vos declaro: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á isto perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isto perdoado, nem neste mundo nem no porvir’ (Mt 12:31, 32)”.
Enquanto o Espírito estiver se ocupando de uma pessoa, esta não comete tal pecado imperdoável. Porém, quando alguém tanto se opõe ao Espírito Santo que Este o deixa de lado, então esta pessoa está em perigo. Noutras palavras, o pecado imperdoável implica na rejeição total e irrevogável de Jesus Cristo. Creio que é sobre isso que Estevão estava falando no sermão que pregou pouco antes de ser martirizado: “Homens de dura cerviz [teimosos, BLH]! Vós sempre resistis ao Espírito Santo” (Atos 7:51).
Portanto, acredito que a chave está na afirmação de Billy Graham: “o pecado imperdoável implica na rejeição total e irrevogável de Jesus Cristo (…)”.
Louis Berkhof, em sua “Teologia Sistemática”, página 249, expressa: “Não é tanto um pecado contra a pessoa do Espírito Santo, como contra a Sua obra oficial, que consiste em revelar, tanto objetiva como subjetivamente, a Graça e a Glória de Deus em Cristo. A raiz desse pecado é o consciente e deliberado ódio a Deus e a tudo quanto se reconhece como divino. É imperdoável, não porque a sua culpa transcende os méritos de Cristo, ou porque o pecador esteja fora do alcance do poder renovador do Espírito Santo, mas, sim porque há também no mundo de pecado certas leis e ordenanças estabelecidas por Deus e por Ele mantidas. E, no caso de pecado particular, a lei é que ele exclui toda a possibilidade de arrependimento, cauteriza a consciência, endurece o pecador e, assim, torna imperdoável o pecado. Daí, nos que cometeram esse pecado podemos esperar ver um pronunciado ódio a Deus, uma atitude desafiadora para com Ele e para com tudo quanto é divino, um prazer em ridicularizar e difamar aquilo que é santo, e um desinteresse absoluto quanto ao bem-estar da alma e à vida futura. Em vista do fato de que esse pecado não é seguido pelo arrependimento, podemos estar razoavelmente seguros de que os que receiam havê-lo cometido e se preocupam com isso, e desejam as orações doutras pessoas por eles, não o cometeram.”
Referências
GRAHAM, Billy. O Espírito Santo. Edições Vida Nova, São Paulo.
MARTINS,Orlando. Diaconia Cristã. AD Santos, Curitiba, 2016.
MARTINS, Orlando. Um presente de Deus para você. Editora Candeia. São Paulo, 2014.
NORDSTOKKE, Kjell (Org). A Diaconia em perspectiva bíblica e histórica. Tradução de Werner Fuche. Escola Superior de Teologia/ Ed. Sinodal. São Leopoldo, RS. 1ª Edição, 2003.304 p.
OLIVEIRA, Raimundo. A Doutrina Pentecostal hoje. Edições CPAD. Rio de Janeiro, 1983.
SILVA, José Apolonio. Grandes perguntas pentecostais. Edições CPAD. Rio de Janeiro, 2004.
STOTT, John. Batismo e plenitude do Espírito Santo. Edições Vida Nova. São Paulo.