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Japoneses criam os primeiros espermatozoides em laboratório

24/03/2011 – 08h51

Folha.com

GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO

Cientistas do mundo inteiro tentavam há quase um século, mas só agora um grupo conseguiu: pela primeira vez na história foi possível criar espermatozoides de um mamífero em laboratório.

A experiência foi feita com camundongos, mas o objetivo é adaptar a técnica para resolver problemas de fertilidade em seres humanos.

Os espermatozoides, criados por pesquisadores japoneses da Universidade da Cidade de Yokohama, conseguiram dar origem –por meio de fertilização in vitro– a descendentes, machos e fêmeas, saudáveis e férteis.

Isso aconteceu até quando as células colhidas haviam passado algum tempo congeladas. É um fator que tradicionalmente atrapalha o sucesso da fertilização.

Para chegar ao resultado, os cientistas retiraram, por meio de uma biópsia, células dos testículos de camundongos recém-nascidos, com dois ou três dias de vida.

Esse material tinha apenas gonócitos e espermatogônias, estágios primitivos do complexo processo de formação dos espermatozoides.

Os cientistas tentaram fornecer quase todos os componentes da formação natural das células. Para que elas se desenvolvessem totalmente, eles adicionaram KSR, produto muito usado em culturas de células-tronco.

Após cerca de um mês, eles confirmaram a produção dos espermatozoides. As culturas continuaram produzindo essas células durante cerca de dois meses.

Editoria de Arte/Folhapress

CÂNCER

O sucesso da técnica em camundongos animou os cientistas. Um dos futuros objetivos da pesquisa é oferecer uma alternativa para preservar as células reprodutivas de crianças e jovens que precisam ser submetidos a tratamentos que podem causar infertilidade, como quimioterapia e radioterapia.

Para um organismo masculino completamente desenvolvido pode ser fácil conseguir farta quantidade de espermatozoides. Em crianças, o processo de maturação não está concluído, o que torna isso mais difícil.

O novo método também poderia ser aplicado em situações em que a infertilidade masculina é causada por outras razões.

Em certos casos, os homens conseguem completar com sucesso as etapas iniciais da divisão celular que origina o espermatozoide. É na hora de completar a etapa de maturação, porém, que algo sai errado e eles não conseguem gerar espermatozoides férteis.

IN VITRO

Pesquisas anteriores sugerem transplantes de células-tronco no tratamento contra a infertilidade. Tecnicamente, isso provavelmente seria possível com os espermatozoides criados em laboratório, gerando filhos pela "maneira tradicional".

Ainda assim, seriam necessários muitos outros testes para verificar a segurança dos transplantes.

Os criadores do esperma de laboratório pretendem usar fertilização in vitro, mas não há previsão de quando o método possa chegar ao público.

De acordo com especialistas, ainda é necessário cautela e, principalmente, mais testes para verificar se os descendentes produzidos com as células de laboratório são realmente saudáveis.

"A prole ser fértil é apenas um indicador bruto de que os gametas são "normais’", dizem os geneticistas Marco Seandel e Shahin Rafii, em crítica também na "Nature".

"Pesquisas devem ser feitas para saber se os descendentes da fertilização in vitro são saudáveis em outros aspectos (envelhecimento, sistema imune e outros)."

ESTUDO COMPLEXO

Embora seja a menor célula do corpo humano, o processo que produz o espermatozoide –conhecido como espermatogênese– é complexo e leva mais de um mês.

Seu tamanho diminuto e a complexidade de sua estrutura mantiveram muitas de suas propriedades em segredo até agora.

Na semana passada, pesquisadores finalmente anunciaram como o espermatozoide é atraído para o óvulo uma espécie de poro das células "sentiria" a presença de progesterona e dispararia o mecanismo.

O sucesso com os camundongo abre as portas para a experiência em humanos, mas ainda não há previsão disso. "Estou confiante que conseguiremos aplicá-la [a técnica] em animais maiores", disse Takehiko Ogawa, chefe do trabalho.

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Arqueólogos encontram muralha que pode ser do Rei Salomão

Arqueóloga diz que é a primeira vez que se descobre estrutura que pode ter correlação com antigo rei egípcio

Efe

Arqueólogos israelenses descobriram em escavações realizadas junto à Cidade Antiga de Jerusalém os restos de uma muralha do século X a.C. que poderiam confirmar a descrição bíblica dos tempos do rei Salomão.

Sasson Tiram/Universidad Hebrea Jerusalén/Efe

Sasson Tiram/Universidad Hebrea Jerusalén/Efe

Arqueóloga Eilat Mazar no local de escavações na Cidade Antiga de Jerusálem

Uma parte da muralha, de 70 metros de comprimento e seis de altura, foi encontrada em uma local de nome Ofel, entre a conhecida como Cidadela de David e a parede sul do Monte do Templo judeu, também conhecido como Esplanada das Mesquitas muçulmana.

Empreendidas nos últimos meses, as escavações fazem parte de um projeto da Universidade Hebraica de Jerusalém, a Autoridade de Antiguidades de Israel e outras instituições, e conta com o financiamento de patrocinadores americanos.

Sua diretora, Eilat Mazar, data a muralha com base em fragmentos de vasilhas descobertas nos arredores. Segundo ela, os objetos são de tempos do reinado de Salomão, o período de maior construção até então em Jerusalém e quando foi erguido o Primeiro Templo judeu, segundo o Antigo Testamento.

“Esta é a primeira vez que se descobre uma estrutura desse período que pode ter uma correlação com as descrições das obras de Salomão em Jerusalém”, afirma.

“A Bíblia conta que Salomão construiu, com ajuda dos fenícios, que eram excelentes construtores, o Templo e seu novo palácio e que os rodeou com uma cidade. O mais provável é que estivesse conectada à muralha mais antiga da Cidadela de David”, explica a diretora das escavações.

No local, foram desenterradas também uma monumental guarita de vigilância de seis metros de altura e uma torre que serviria de mirante para proteger a entrada da cidade, que são características do estilo do Primeiro Templo. Deste período datam os antigos povoados israelitas de Meguido ou Be’er Sheva, declaradas em 2005 Patrimônio Mundial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Para a arqueóloga, os restos da muralha representam uma prova adicional da exatidão com que as sagradas escrituras descrevem o esplendor do período dos reis David e Salomão. Ela cita o Primeiro Livro de Reis (3:1), no qual “Salomão se tornou parente do então Faraó do Egito, pois se casou com sua filha Anelise e a trouxe à cidade de David, quando terminava de construir sua casa, a casa de Jeová e os muros de Jerusalém ao redor”.

As pesquisas sugerem que os restos da muralha revelam a presença de uma monarquia e que a fortaleza e forma de construção indicam um alto nível de conhecimentos de engenharia. Os vestígios estão em um ponto estratégico, no alto do vale do Kidron, hoje limite à Cidade Antiga de Jerusalém.

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Reunidos fragmentos de texto bíblico separados há séculos

Texto reconstituído permite acompanhar evolução do relato bíblico do Êxodo ao longo dos milênios

Associated Press

Duas partes de um antigo manuscrito bíblico, separadas por séculos, foram reunidas pela primeira vez numa mostra conjunta nesta sexta-feira, 26, graças a uma descoberta acidental que está ajudando a iluminar um período obscuro na história da Bíblia hebraica.

Dan Balilty/AP

Dan Balilty/AP

Textos em hebraico separados há séculos ajudam a recosntituir a história da Bíblia

Os fragmentos, de 1.300 anos, que são alguns dos poucos manuscritos bíblicos hebraicos que sobreviveram à era em que foram escritos, existiram separadamente e com sua relação mútua ignorada até que uma fotografia de um, publicada em sua primeira exibição pública em Israel, chamou a atenção dos estudiosos que acabaram por ligá-os.

Juntos, compõem o Segundo Cântico do Mar, cantado pelos israelitas após a fuga do Egito, enquanto assistiam à destruição dos exércitos do faraó no Mar Vermelho.

Uma mostra no museu nacional de Israel, dedicada ao Cântico do Mar, agora está unindo as duas peças.

Uma página do cântico, conhecida como o Manuscrito Ashkar, estava abrigada numa biblioteca de livros raros na universidade Duke, nos EUA, e foi exibida pela primeira vez em Israel em 2007.

Foi nessa oportunidade que a fotografia do manuscrito apareceu em um jornal e chamou a atenção de dois paleógrafos israelenses, Mordechay Mishor e Edna Engel, que notaram a semelhança com uma outra página em hebraico, o Manuscrito de Londres, que é parte de uma coleção particular.

“A uniformidade das letras, a estrutura do texto e as técnicas usadas pelo escriba… ficou muito claro para mim”, disse Engel.

A relação não seria óbvia para o observador leigo. O Ashkar está escurecido pela exposição aos elementos e o texto está praticamente invisível, enquanto o Londres é legível e se encontra muito melhor preservado.

Mas após estudos com raios ultravioleta, os especialistas confirmaram que os textos não só foram escritos pela mesma mão, mas eram parte de um mesmo rolo de pergaminho.

Estudiosos acreditam que o pergaminho foi escrito por volta do século sétimo, em alguma parte do Oriente Médio, possivelmente no Egito. Não se sabe como essas partes foram separadas, ou o que aconteceu com o restante do material escrito.

O museu em Israel providenciou para que o Londres fosse levado a Jerusalém. A nova mostra descreve como o Cântico do Mar foi composto por meio de vários manuscritos antigos, dos Manuscritos do Mar Morto, que têm 2.000 anos, até o chamado Códice de Alepo, escrito quase mil anos mais tarde.

A reunificação dos fragmentos é um elo importante na corrente, mostrando como a escrita da Bíblia hebraica evoluiu ao longo do chamado período “silencioso” – entre os séculos terceiro e décimo – do qual não resta praticamente nenhum texto bíblico.

O Cântico nos Manuscritos do Mar Morto está escrito como prosa, por exemplo, e no manuscrito reunido, em versos.