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Deus não fala com você hoje por meio de profecia e revelação

Diz, Justin Peters no Brasil

Foto do perfil de Justin Peters Ministries

Julio Severo

Houve muita confusão entre alguns especialistas de apologética cristã no Brasil no começo deste ano acerca de se Justin Peters pregou ou não cessacionismo quando, como palestrante convidado da VINACC, ele ensinou contra os pregadores da teologia da prosperidade chamando-os de “heréticos.”

Fato é que ele queria também chamar os que acreditam em dons carismáticos sobrenaturais de “heréticos,” mas foi impedido de fazer isso em suas reuniões públicas da VINACC.

Ele não teve permissão de ensinar seu evangelho cessacionista na VINACC.

Como Peters se tornou um cessacionista intransigente?

Ao que tudo indica, depois de ir a várias reuniões de defensores da teologia da prosperidade e não receber nenhum milagre, Peters, que é deficiente físico, permitiu que sua experiência ruim criasse uma teologia ruim: Se ele não recebeu nenhum milagre nessas reuniões é porque Deus não dá nenhum dom sobrenatural em nossa época.

Hoje, ele é um inflamado cessacionista — um jargão teológico para designar os adeptos da teoria que diz que os dons sobrenaturais do Espírito Santo cessaram 2000 anos atrás e que eles não mais estão disponíveis hoje. Aliás, as experiências de não-cura dele têm sido usadas pelo teólogo calvinista John MacArthur para endossar suas conferências anti-pentecostais “Fogo Estranho,” onde Peters é um dos palestrantes.

Em Campina Grande, onde a reunião da VINACC foi realizada, Peters foi gravado dizendo:

“Toda vez que alguém disser que Deus falou comigo e me deu uma palavra, me deu uma nova revelação, me deu uma profecia, você automaticamente rejeita essa pessoa como falso mestre e falso profeta. E poderíamos falar por uma hora pelo menos sobre como Deus fala e não fala com as pessoas. Hebreus 1:1,2 é muito claro: Deus há muito tempo falou por meio dos pais nos profetas em muitas partes de muitos modos diferentes, mas nestes últimos dias tem falado conosco em Seu Filho Jesus que é a fala final de Deus. Temos o registro inerrante, infalível e suficiente disso. Por isso, Deus não está dando para certos indivíduos revelações especiais e discernimento especial nos planos futuros dEle. Ele não está mais fazendo isso. Tudo o que precisamos está bem aqui na Palavra de Deus. Somos a habitação do Espírito que ilumina o sentido dessa Palavra em nossos corações e mentes. Isso é tudo o que precisamos. A segunda coisa: rejeite imediatamente qualquer pessoa que afirme ser apóstolo ou profeta.”

Depois de ler as palavras de Peters, o Dr. Michael Brown, autor de “Authentic Fire” (Fogo Autêntico, um livro que desmascara as falácias de “Fogo Estranho,” um livro escrito por MacArthur), me disse:

“Que declaração bizarra dizendo que Deus não fala hoje. A Palavra diz claramente que Jesus, pelo Espírito, continua a falar. Se eu acredito na Palavra, então tenho de crer que o Espírito ainda está falando hoje. É preocupante ver como o sr. Peters, de forma horrível, faz uso impróprio da Bíblia para justificar suas afirmações e em vez de lidar com a evidência bíblica detalhada que eu forneci em meu livro ‘Authentic Fire,’ ele repudia tudo porque aceitei um convite do Benny Hinn para aparecer em seu programa de TV e pregar o evangelho para milhões de telespectadores.”

Com suas palavras, Peters mostrou que ele não tem um problema apenas com os pregadores da teologia da prosperidade. O problema dele é com todas as pessoas que professam o pentecostalismo ou experiências carismáticas. Aliás, o principal alicerce dele para atacar os líderes pentecostais parece ser sua oposição feroz aos dons sobrenaturais do Espírito Santo hoje.

A propósito, o Brasil foi um desafio imenso para ele, pois a maioria dos evangélicos brasileiros é pentecostal. O evangelicalismo brasileiro é basicamente pentecostal e neo-pentecostal.

Peters teria uma boa audiência entre os seguidores do Bispo Edir Macedo, o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Macedo também acredita que Deus não dá profecias e revelações hoje. Ele disse: “Antigamente, Deus falava por meio de sonhos, visões ou profecias, porque não havia a Palavra dEle escrita. Hoje, Ele fala por meio da Sua Palavra, orientada pelo Espírito Santo.”

O que se deve fazer com pessoas hoje que dizem que tiveram uma profecia ou revelação? Macedo responde: “Se alguém souber que há um ‘profeta ou profetisa’ na Universal, por favor, denuncie imediatamente ao pastor e também ao líder regional, para que providências imediatas sejam tomadas.”

Isso parece perfeito para Peters, não? Afinal, essa é a teologia dele!

Macedo é implacável em sua postura anti-profecia. O que é incrível é que ele é um líder neo-pentecostal que prega a teologia da prosperidade. No entanto, quer ou não você traga para Macedo uma revelação profética ou a Palavra de Deus sobre o valor da vida, ele permanece feroz e igualmente implacável em sua defesa do aborto e controle da natalidade.

Se os ataques de Peters fossem dirigidos a esse real fogo estranho (aborto, controle da natalidade, cessacionismo parcial e Evangelho juntos), seria justo. Mas seus ataques são dirigidos a outras questões e contra todos os pentecostais. Para Peters, todos os dons de profecia e revelações hoje são “fogo estranho,” são demoníacos. É claro que Macedo diria: “Amém!”

Há evangelhos falsos e milagres falsos, mas jamais deveríamos usar os evangelhos falsos e os milagres falsos para desqualificar o Evangelho verdadeiro e os milagres verdadeiros.

Pelo fato de que sou um cristão com dons espirituais, eu deveria aceitar todas as manifestações de dons sobrenaturais vinda de cristãos? Não. Alguns anos atrás, um pregador americano disse que recebeu uma profecia sobre o Brasil ganhando a Copa do Mundo de 2014 e também sobre uma mulher evangélica sendo eleita como presidente do Brasil em 2014. Sua profecia foi interpretada como Deus apoiando Marina Silva, uma militante socialista que começou na Igreja Católica e hoje é membro da Assembleia de Deus.

O Brasil sofreu sua pior derrota na Copa do Mundo de 2014. Eu sabia que a profecia dele não estava correta, especialmente por sua interpretação favorecendo Marina, que tem sólidas posturas socialistas. Embora muitos líderes evangélicos estivessem apoiando-a por causa da profecia, eu estava, antes da eleição, desmascarando Marina e seu ávido socialismo. Ela acabou perdendo.

O Apóstolo Paulo, que tinha muitos dons carismáticos, nunca ensinou que temos de rejeitar profecias, mas que temos de ser livres para profetizar e livres para avaliar o que cada pessoa diz em profecia: “Tratando-se de profetas, falem dois ou três, e os outros julguem com zelo tudo o que foi dito.” (1 Coríntios 14:29 KJA)

Rejeitar todas as profecias não é o jeito da Bíblia. Aceitar todas as profecias não é o jeito da Bíblia. O jeito da Bíblia é liberdade para profetizar e liberdade para avaliar.

Em Campina Grande, Justin Peters criticou fortemente os pregadores da teologia da prosperidade. Ele também criticou fortemente os organizadores da VINACC porque ele queria ensinar o cessacionismo (a doutrina estranha que diz que Deus não mais concede dons sobrenaturais hoje), porém eles não lhe permitiram. Ainda que vários palestrantes da VINACC sejam calvinistas cessacionistas, seu público é em grande parte pentecostal. O cessacionismo de Peters teria sido extremamente ofensivo para esse público.

As declarações de Peters contra profecia e revelação foram gravadas numa entrevista com ele em Campina Grande e mostram como ele estava ansioso para ensinar o público da VINACC a rejeitar “heresias,” interpretadas erroneamente por ele como uma aceitação de profecia e revelação hoje.

Em suas declarações gravadas, Peters também atacou o Dr. Michael Brown, um líder pentecostal judeu que tem sido proeminente por sua defesa do Evangelho e de Israel. Ele disse:

“Muitos pastores convidarão pessoas questionáveis para vir a suas igrejas para pregar. Eles irão programas de televisão questionáveis (talvez eu devesse dizer questionáveis porque podem parecer loucos) associados com falsos profetas. Um bom exemplo é o Dr. Michael Brown, que é considerado um dos líderes intelectuais do movimento pentecostal. Ele detonou a Conferência Fogo Estranho que foi realizada na igreja de John MacArthur, porque ele afirmou que a Conferência Fogo Estranho nivelou todos os pentecostais e foi realmente como se a Conferência Fogo Estranho tivesse de falar sobre os extremistas de fogo estranho entre os pentecostais. Ele disse que os pentecostais não são o que essa conferência disse. Por isso, ele detonou a conferência e então três meses mais tarde ele vai ao programa de televisão do Benny Hinn e grava cinco programas com Benny Hinn que é um dos, ou até mesmo a mais infame má influência do mundo, isto é, uma má influência nos crentes. Se não dá para você dizer que Benny Hinn é um falso mestre, então algo está realmente errado. E assim associações falam volumes sobre quem somos e no que cremos.”

Em resposta, o Dr. Michael Brown esclareceu que, pelo fato de que Peters tentou apresentá-lo de forma enganosa no Brasil, ele está aberto a um debate público sobre essas questões. O debate poderia ocorrer no Brasil. Brown disse:

“1) Convidei o Pastor MacArthur para uma discussão privada ou debate público em numerosas ocasiões, mas ele recusou o debate privado ou público; 2) Eu debateria com Justin Peters num instante quanto ao que a Bíblia diz sobre cura divina; 3) Eu expus falsas acusações que Justin Peters fez contra Benny Hinn; 4) O fato de que participei do programa de TV do Benny Hinn não é um endosso à sua teologia, do mesmo modo que minha participação no programa secular do Piers Morgan não seria endosso. Em vez disso, pude alcançar a audiência dele com a mensagem de Jesus o Messias. Isso é errado? 5) Tenho exposto erros nas igrejas pentecostais há décadas, e continuo a fazer isso até hoje, mas sou pentecostal por causa do ensino claro e frequente da Bíblia. Com prazer eu debateria o que a Bíblia diz com qualquer líder qualificado que não é pentecostal.”

O Dr. Brown está disposto a debater com John MacArthur e Justin Peters, no Brasil ou nos EUA, acerca da postura deles contra profecia, revelação e outros dons sobrenaturais para hoje. Ele disse:

“Convido o sr. Peters a ter um debate formal e moderado comigo sobre o que a Bíblia diz — não o que as pessoas dizem — acerca dos dons do Espírito, inclusive cura e profecia, sendo prometidos por Deus em Sua Palavra para hoje. Não vamos nos engajar em retórica. Vamos ver o que está escrito na Palavra.”

Não sei se os pentecostais brasileiros estão preparados para tal debate.

A CPAD, a maior editora pentecostal do Brasil, publica vários livros do calvinista anti-pentecostal John MacArthur, mas não publicou “Fogo Autêntico,” do Dr. Brown. Em contraste, as editoras calvinistas cessacionista do Brasil nunca publicarão nenhum livro do Dr. Brown ou de qualquer outro pentecostal, ainda que não haja no Brasil nenhuma versão pentecostal anti-calvinista do John MacArthur.

A CPAD pertence à Assembleia de Deus, que tem mais de 12 milhões de membros no Brasil. A Igreja Presbiteriana do Brasil, a primeira denominação calvinista no Brasil, tem 1 milhão de membros, mas nem todos eles são cessacionistas.

O “Fogo Estranho” de MacArthur foi publicado no Brasil pela editora Thomas Nelson. Tanto a Thomas Nelson quanto a Zondervan, as duas maiores editoras protestantes do mundo, pertencem à editora americana HarperCollins, que publica a Bíblia Satânica, escrita pelo satanista Anton LaVey.

Então o dono de quem publica e promove “Fogo Estranho” no Brasil é HarperCollins, que publica e promove livros satânicos. Isso é fogo satânico!

Entretanto, quem publica e promove outros livros de MacArthur no Brasil é a gigante pentecostal CPAD. Isso faz sentido?

Um contraste esquizofrênico. Pentecostais do Brasil promovem MacArthur. MacArthur não promove pentecostais brasileiros. MacArthur usa e abusa do Evangelho para atacar os pentecostais. Os pentecostais brasileiros não usam e abusam do Evangelho para atacar MacArthur. Será que os pentecostais brasileiros são masoquistas espirituais que adoram ser rotulados de “heréticos” por crerem em dons sobrenaturais para hoje?

Há um real fogo estranho quando “Fogo Estranho” e a Bíblia Satânica são publicados e promovidos pela mesma fonte.

Há um fogo mais estranho quando livros de um escritor calvinista anti-pentecostal são publicados e promovidos pela maior editora pentecostal do Brasil.

Versão em inglês deste artigo: Justin Peters in Brazil: God Does Not Speak to You Today Through Prophecy and Revelation

Fonte: www.juliosevero.com

 

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Rev. Ângelo Medrado, Bacharel em Teologia, Doutor em Novo Testamento, referendado pela International Ministry Of Restoration-USA e Multiuniversidade Cristocêntrica é presidente do site Primeira Igreja Virtual do Brasil e da Igreja Batista da Restauração de Vidas em Brasília DF. é, ex-maçon, autor de diversos livros entre eles: Maçonaria e Cristianismo, O cristão e a Maçonaria, A Religião do antiCristo, Vendas alto nível, com análise transacional e Comportamento Gerencial.

 

 

 

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Unção ou desequilíbrio espiritual?

Que Deus possa nos dar sabedoria e compreensão com discernimento espiritual.

por Leandro Bueno-via gospelprime
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Uma das características, a meu ver, mais marcantes de nossos tempos é a utilização de vários termos totalmente fora dos seus devidos contextos, apesar de repetidos à exaustão pela população, tais como fundamentalista, homofóbico, fascista, etc.

No meio cristão, isso ocorre também e um exemplo do que estou dizendo se dá com a palavra UNÇÃO. Analisando o que a Bíblia nos ensina sobre o assunto e como vemos tal termo sendo utilizado em muitas igrejas, chega a dar calafrios, tal é o nível de heresias, falta de sabedoria e maturidade especial. Vejamos algumas das situações a que me refiro.

No período do Antigo Testamento, tínhamos a época da lei, da Antiga Aliança, quando, como regra, somente reis e sacerdotes eram ungidos. Tal ato era o símbolo de uma suposta autoridade divina que recaía sobre esses indivíduos, a ponto de muitos ali não poderem ser questionados acerca de seus atos.

Interessante é que, mesmo no ambiente secular, vimos isso ocorrer ao longo da História política, quando na época do Absolutismo, tínhamos a máxima “The King can do no wrong”, ou seja, o rei, o imperador, não podiam errar, não poderiam nem ser responsabilizados por seus atos.

E hoje quem são, no meio religiosos, esses “reis” e “sacerdotes”? Eu diria que são muitos destes auto-proclamados apóstolos, pai-póstulos e que adoram ostentar esses títulos, mas não só eles, mas todo aquele cristão que, ensimesmado na sua vaidade e altivez, se coloca em um nível superior aos outros, muitas vezes querendo agir como moralistas de plantão ou de forma extremamente autoritária, dizendo o que os outros devem ou não fazer.

Ora, isso não significa dizer que não acredito que existam, sim, pessoas que tenham uma maior intimidade com Deus, por buscarem todos os dias, por terem uma vida onde a santidade é um alvo perseguido, etc. Porém, é importante nunca perder de vista o fato de que todos somos imensamente carecedores da graça de Deus e que o orgulho e a empáfia são o caminhão da perdição, da queda.

E o que seria então a unção? A unção é o próprio Espírito Santo habitando na pessoa regenerada. Com efeito, todo verdadeiro cristão é ungido por Cristo, com o Espírito de Deus. E, penso, que somente olhando, para Gálatas 5:22, temos condições de entender como esse Espírito se manifesta em nós.

Ele se manifesta por meio de seus frutos que são o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e temperança. Assim, torna-se um tanto questionável, principalmente por parte de alguns que se colocam como “ungidos de Deus”, se você olhando para a vida destas pessoas, não consegue detectar nenhum destes frutos ali presentes e o cristão ele tem o dever de, em sua jornada, buscar ser coerente.

Daí, ser algo pra lá de questionáveis, para não dizer anti-bíblicos, esses modismos que vemos no Brasil do Gospel, onde temos unções ao gosto do freguês: unção do riso, unção apostólica, unção do cachorro, unção dos quatro seres viventes, unção do anjo, unção do tombo, unção da águia, unção da loucura, etc. A criatividade é o limite.

A questão é que a maioria destes modismos infelizmente são baseados em versículos isolados e totalmente fora do contexto atual, com uma teologia paupérrima, e muitas vezes servem apenas para encher templos, quando não vender produtos, como toalhinhas, terra e óleo que seriam de Israel, pedrinhas com letras em Hebraico, copos, etc.

Ou seja, é o mesmo mercantilismo no templo, tão repudiado por Jesus, que se revoltou com isso, a ponto de expulsar muitos ali por não tolerar tal prática, como lemos no final dos Evangelhos sinóticos (Marcos 11:15-19, Mateus 21:12-17 e Lucas 19:45-48) e perto do início do Evangelho de João (João 2:13-16).

Chega-se ao ponto de termos até transferência de unção, entre um crente e outro, com imposição de mãos. Pergunta-se: Em que lugar no Novo Testamento isso ocorreu? Alguém consegue conceber o apóstolo Paulo ministrando que unção e dons espirituais podem ser transferidos? Ou Jesus orientando seus discípulos desta maneira?

Concluindo, que Deus possa nos dar sabedoria e compreensão com discernimento espiritual. SOLI DEO GRATIA.

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Rev. Ângelo Medrado, Bacharel em Teologia, Doutor em Novo Testamento, referendado pela International Ministry Of Restoration-USA e Multiuniversidade Cristocêntrica é presidente do site Primeira Igreja Virtual do Brasil e da Igreja Batista da Restauração de Vidas em Brasília DF., é autor de diversos livros entre eles: Maçonaria e Cristianismo, O cristão e a Maçonaria, A Religião do antiCristo, Vendas alto nível, com análise transacional e Comportamento Gerencial.

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A origem do declínio dos dons espirituais – um estudo bíblico

 declinio dos dons espirituais

É talvez, dos maiores desafios da igreja, encontrar o ponto de equilíbrio, de tal forma que possa fugir das heresias, mas não se tornar um clube de amigos

por Moisés C. Oliveira

É praticamente unanimidade entre os historiadores do Cristianismo que a crescente institucionalização da Igreja foi acompanhada pelo desaparecimento dos dons espirituais, especialmente o de profecia, que à época era tido como um ofício tal como o de bispo e pastor, segundo o professor James L. Ash, Jr.

Institucionalização, aqui entendida, é a ênfase demasiada na organização que, por sua vez, provoca a hierarquização, em detrimento de outros aspectos, inclusive os espirituais da igreja.

Há um brilhante livro escrito por Adolf Harnack, delineando claramente esse aspecto e demonstrando todas as conexões dos fatos que levaram ao declínio do dom de profecia desde o período da igreja primitiva. Não apenas Harnack, mas outros historiadores protestantes do dogma, ligam o desaparecimento do ofício de profeta com a evolução da teologia canônica.

Advertência

Hoje o ambiente cristão protestante está com opiniões polarizadas sobre esses assuntos, daí a importância de deixar evidentes os pressupostos que serão tratados. Há por um lado, o justo temor dos pastores em verem seus cultos tornarem-se num caos generalizado, com a liturgia sendo interrompida a todo tempo por “profetas” – mais íntimos com o Eterno que eles próprios – querendo entregar mensagens mais importantes que a sua ao rebanho. Por outro lado, os membros que sentem cada vez mais acuados diante da teologia racionalista, apontando para um Deus idealizado, numa submissão constrangedora à filosofia e ideologias contemporâneas, que vêm sendo divulgadas e abafam, sobremodo, os dons espirituais.

Assim como há um árduo caminho para alguém se tornar pastor, também o havia para o profeta. Ambos, em tese, falam em nome de Deus. Nos livros de Samuel (1Sm 10:11) e Reis (2 Rs 4:38), do Antigo Testamento temos exemplos da escola de profetas. Portanto, profetizar era algo que estava sujeito a educação, ao aprendizado. Profeta, no contexto das passagens citadas, era um ofício exercido – aprendido e exercitado praticamente em pé de igualdade com as lideranças das congregações –, distinto de como entendemos hoje  o dom de profecia.

Quanto ao pastor, para a igreja contemporânea, é praticamente questão fechada entre as denominações que ele curse Teologia, que contemple uma grade mínima de disciplinas para capacitá-lo e situá-lo na realidade da igreja e da sociedade em que vive. Ambos têm a responsabilidade de entregar mensagens que norteiam a Igreja nessa terra. Se ponderarmos no quesito função e papéis determinados, veremos que a autoridade e a liderança em conduzir o rebanho está com o pastor; ao profeta, no contexto contemporâneo e relativo ao dom e não mais ao ofício, cabe anunciar – apenas quando houver o que anunciar – a mensagem à Igreja, que obviamente deve estar em perfeita harmonia com as Escrituras Sagradas. Disputar espaço e holofote com pastor não é função de profeta, muito menos entregar profecias a granel de assuntos corriqueiros em reuniões feitas à sombra da liderança.

Para o devido entendimento desse dilema, é preciso ter em mente que há diferentes tradições no seio da Igreja que interpretam de maneiras distintas a profecia e os dons espirituais. De ambos os lados há nomes de peso. Porém esse artigo vai em outro viés; antes se restringe unicamente a expor os fatos limitados a suposta origem, que determinaram o declínio dos dons espirituais e do ofício de profeta, do que comparar interpretações sobre os dons e tomar partido na questão.

A institucionalização

A institucionalização da Igreja primitiva, avançou muito como uma resposta contra a perseguição do estado e contra as heresias tais como o gnosticismo e o marcionismo. Reagindo contra esses inimigos, a Igreja formalizou o culto e centralizou o poder nos bispos. Desafortunadamente, esse movimento em direção à organização estrutural, trouxe consigo uma mudança semântica no significado da palavra “bispo”.

A palavra bispo é derivada do grego epískopos (ἐπίσκοπος). Na sua forma verbal significa vigiar ou supervisionar. Essa palavra não é restrita ao Novo Testamento e foi vastamente empregada pela cultura/literatura greco-romana do primeiro século para indicar indivíduos com funções de tutores, inspetores, vigilantes e ou superintendentes. Na igreja apostólica, a palavra foi usada para designar aqueles que ocupavam função de supervisionar outros indivíduos em fatos relacionados a igreja. Em Atos 20:17,28 e Tito 1:5,7 descreve os mesmos indivíduos que eram conhecidos por bispos, como sendo também os mais velhos (anciões), de quem se esperava também que pastoreassem o rebanho.

Com a crescente ênfase na estrutura organizacional, os bispos foram separando-se em congregações distintas e tornando cada vez mais prestigiados e poderosos. Essa mudança surge nos escritos de Inácio, bispo de Antioquia, em meados de 110 D.C., já preocupado em defender e promover a autoridade e prestígio dos bispos contra os hereges. Na Epístola aos Esmirniotas, ele vai declarar que “apenas essa Eucaristia que está sob o bispo será considerada válida”. Também asseverava que além do bispo, não há legitimidade em batismos e casamentos. Em outra epístola, a do Trálios, chega a admoestar que “não se faça nada sem o bispo”.

A História demonstra que a tendência de institucionalizar a função do bispo, iniciada com Inácio, permaneceu e culminou no eclesiasticismo – Afeição excessiva a formas, métodos e práticas eclesiásticas, Dic. Michaelis – e no estabelecimento do episcopado monárquico. Houve a partir daqui, uma valorização cada maior das práticas eclesiásticas em detrimento das experiências espirituais e pessoais.

Também significativo, é que as manifestações espontâneas do Espírito Santo se tornassem cada vez menos desejadas e aceitas pelas autoridades eclesiásticas, a saber os bispos. A solução proposta por James L. Ash, Jr. para o questionamento de que os dons foram superados com o estabelecimento do cânon do Novo Testamento é que “os bispos, e não o cânon, rejeitaram a profecia”. A autoridade de falar à Igreja em nome de Deus é deslocada para aquele que ocupa o cargo de bispo e não mais naquele que foi agraciado com o dom espiritual, ou mesmo aqueles que exerciam o ofício de profeta.

A tensão gerada pela oposição dos que pretendiam a continuidade da liberdade do Espírito, contra os que defendiam a emergente organização estrutural é tema ainda aberto, desde aquela época. Há inclusive, a eminente escritora, socióloga e pesquisadora do Movimento Pentecostal norte-americano Margaret M. Poloma, que destaca em seus livros essa mesma tensão aos quais ela nomeia por dilemas. Inclusive há um livro seu que trata desse dilema que perdura no meio evangélico, visto pela perspectiva das Assembleias de Deus nos EUA (The Assemblies of God at the Crossroads: Charisma and Institutional Dilemmas).

A liberdade e espontaneidade do Espírito Santo foram vencidas pelo formalismo ritualístico. No seu livro “História do Pensamento Cristão”, Paul Tillich, teólogo alemão lamenta que a institucionalização tenha vencido a liberdade do Espírito. O passo seguinte dessa opção feita pela Igreja, agora determinava que os líderes que ocupavam os cargos de bispos não careciam mais dos dons espirituais para exercer tais cargos; ao mesmo tempo arrogavam para si exclusividade na comunicação e como representantes da vontade de Deus.

Essa tensão se tornou evidente quando Montano começou a defender a importância dos dons espirituais na Igreja, especialmente o de profecia.

Detalhe importantíssimo

Um detalhe importante sobre os textos redigidos pelo bispo Inácio de Antioquia, defendendo a supremacia do episcopado era que ele também era profeta. Portanto, esses documentos eram dirigidos aos seus pares, pois ele também exercia, nessa época, o dom de profecia, concomitante com o de bispo. Há um texto dele na Epístola aos Filadelfos que diz: “Gritei enquanto estava com vocês. Falei com grande voz, com a própria voz de Deus. ‘Deem atenção ao bispo, ao presbitério e aos diáconos’. Mas alguns suspeitaram de mim por dizer isso, porque eu teria conhecimento prévio da divisão de algumas pessoas; mas Aquele a qual estou ligado é testemunha por mim de que eu não tinha conhecimento disso da parte de nenhum ser humano, mas do Espírito, que pregava, e dizia isso, ‘Não faça nada sem o bispo’.”

A novidade iniciada por Inácio foi a máxima: “não faça nada sem o bispo”. No entanto essa asserção da supremacia do bispo não justifica por si, o desaparecimento do ofício de profeta. A falência do ofício, pode estar ligada a uma ideia que passa a atribuir ao bispo, tanto o dom de profecia quanto o ministério de bispo. Arnold Ehrhardt, argui que a partir de Inácio de Antioquia o que ocorre é “um lento amalgamento do ministério profético com o ministério episcopal” (The Apostolic Succession).

Contribuem para esse ponto de vista, o fato de Policarpo, o mártir, em meados do segundo século, também ser chamado de “profético” – atribuição só aplicada a bispos respeitados pela comunidade.

Melitão de Sardes era outro bispo que profetizava. Polícrates descreve-o como “aquele que vivia inteiramente no Espírito Santo”. Tertuliano também afirmou que os montanistas posteriores o consideravam um profeta. Há um inclusive uma homilia sua, “Sobre a Páscoa”, que ao final, o Cristo Ressuscitado fala aos leitores em primeira pessoa, aludindo assim à retórica profética, na qual estudiosos apontam como uma linguagem extática.

Portanto Inácio de Antioquia não foi o único a reunir tanto o dom de profecia, quanto o ministério episcopal. Após ele, o ofício de profeta foi virtualmente extinto; enquanto o dom de profecia continuou aparecendo ocasionalmente em alguns bispos.

Por irônico que possa parecer, quando Inácio profetiza, “não faça nada sem o bispo” e conquista aceitação por parte da comunidade, a autoridade e a liberdade essencial do ofício de profeta sofreram um golpe definitivo e essa profecia curiosamente contribui para a extinção do ofício.

A crítica de Inácio arrogando poder ao bispo, era muito mais relacionada ao poder e a defesa da Igreja contra heresias que surgiam pela boca de qualquer um, desmantelando o ensinando dado à luz das Escrituras, do que contra a profecia propriamente, visto que ele mesmo era profeta.

Onde estão os profetas?

No final do segundo século, Montano surgiu com a embaraçosa pergunta à Igreja: “Onde estão os profetas?” Esse questionamento, obviamente, só tornou-se cabível devido ao desaparecimento dos profetas, os de ofício, principalmente.

Montano foi um personagem polêmico do segundo século, que distinguia-se pela operação de sinais e maravilhas, bem como de milagres; a ponto dos seus detratores reconhecerem que “sua vida e doutrina eram imaculadas”.

A interpelação de Montano, foi provocada pela sua preocupação com o crescente formalismo adotado pela igreja e pela frouxidão moral cada vez mais evidente e tolerada entre seus membros. Suas reivindicações eram que se desse a devida importância à direção sobrenatural do Espírito Santo, a uma religiosidade ascética e a segunda vinda de Cristo.

A qualificação para o ministro da Igreja, segundo Montano, era, sobretudo, possuir dons espirituais ao invés de indicações para tais cargos. Seus seguidores, os montanistas – como foram chamados – eram reconhecidos por falarem em línguas estranhas.

Essa ênfase nos dons espirituais trouxe a Montano conflitos com os líderes da Igreja, que contestaram assegurando que o ofício eclesiástico sobrepunha-se a qualquer dom espiritual. Também tiveram problemas na maneira como Montano e seus seguidores entregavam as profecias. Foram acusados de profetizar em estado de êxtase, embora não tivessem tido problemas em comprovar o conteúdo das profecias. Acreditavam que esse expediente de profetizar em frenesi, ou estado de êxtase, era prova da origem demoníaca das mensagens.

Vários sínodos posteriores censuraram Montano e seus seguidores, demonstrando assim, o impacto desconcertante que a sua pergunta causou na Igreja.

O apoio a Montano se alastrou pela Europa, Norte da África e Oriente Médio. Eusébio indica que Irineu foi enviado a Roma para interceder em nome dos montanistas. Tertuliano foi outro que tomou partido em favor de Montano. No seu texto “Contra Práxeas”, Tertuliano chega a afirmar que o bispo de Roma reconhecia os dons de profecia de Montano. Outra afirmação famosa sua é a de que Práxeas prestou duplo serviço; a Roma e ao diabo: “Ele [Práxeas], destituiu a profecia e trouxe a heresia. Ele colocou em fuga o Paracleto e crucificou o Pai”. Tertuliano também escreveu sete livros sobre a profecia em êxtase (extática) que foram ou perdidos ou destruídos.

John Wesley, teólogo cristão do século 18 e quase mítico pregador, foi outro que apoiou a visão de Montano após ler o livro de John Lacy “The General Delusion Of Christians Touch

Epílogo

O grande problema em estudar o Montanismo é que os textos disponíveis são apenas dos seus detratores, não restando os da sua defesa.

Inácio de Antioquia, também era profeta. Não confirmado através dos documentos históricos se de ofício ou por dom.

Esse dilema provocado pela exigência, até certo ponto natural, da organização da igreja e ao mesmo tempo liberdade e espontaneidade do Espírito Santo que deveria ser mantida, é problema ainda não superado. É talvez, dos maiores desafios da igreja, encontrar o ponto de equilíbrio, de tal forma que possa fugir das heresias, mas não se tornar um clube de amigos com reuniões pálidas e previsíveis, tratando e falando quase que de uma filosofia de vida, distante quilômetros da sua origem e vocação.

Fica o texto do Apocalipse de João que parece contemporizar a profecia ao longo do tempo, na Igreja; “Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo” (Apocalipse 1:3).

Bibliografia
ASH, James L.  Jr. – “The Decline of Ecstatic Prophecy in the Early Church” – Theological Studies 37 (1976).
HYATT, Eddie L. – “2000 Years of Charismatic Christianity” – Charisma House, Florida (2002).
BORING, M. Eugene – “How May We Identify Oracles of Christian Prophets in the Synoptic Tradition?” Journal of Biblical Literature 91 (1972).
EHRHARDT, Arnold – “The Apostolic Succession”, Londres, (1953).
HARNACK, Adolf – “Outlines of the History of Dogma”, Funk & Wagnalls Company, Nova Iorque, (1893).

Informações obtidas junto ao site gospelprime

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 Moisés C. Oliveira – autor

Formado em Letras (Literatura Inglesa e Portuguesa), pastor assembleiano, professor da EBD e de teologia, residindo em São José, SC.