A expressão “caça às bruxas” surgiu após os julgamentos no pequeno povoado de Salém, Massachusetts (EUA), em outubro de 1692. Na ocasião, mulheres que tinham envolvimento com práticas ocultas foram julgadas e cerca de 20 delas acabaram queimadas numa fogueira em praça pública.
Em abril de 2019, na mesma Salém, será realizada a primeira “Convenção anual de bruxos cristãos”. Segundo o material de divulgação, contará com a presença de um dos líderes desse movimento, o “profeta” Calvin Witcher, o qual defende que Jesus era um feiticeiro e a Bíblia é um “livro de magia”.
A pastora Valerie Love, promotora do evento, se descreve como uma bruxa cristã e costuma ministrar aulas de ‘consciência espiritual’. Recentemente, ela iniciou a Escola de Mistérios, onde oferece ajuda para os cristãos usarem a magia, que os críticos condenam como “perigosa”. ” Ela insiste que não há nada errado com a ideia de cristãos praticando magia apesar das advertências bíblicas contra a prática.
Em entrevistas anteriores, Witcher apontou os milagres feitos por Jesus como claros exemplos de feitiçaria.
“Você está falando sobre feitiçaria em seu entendimento básico, é apenas ser capaz de mudar o natural por meios sobrenaturais. É um processo alquímico…. você transformar água em vinho. Fazer dois peixes e cinco pães alimentar uma multidão – com certeza formas de feitiçaria. Andar sobre a água desafia as leis que governam esse plano físico. Isso é tudo do reino de feitiçaria. Todo milagre de Jesus desafia a lei humana, as leis do universo e do mundo. Então… você não pode realmente falar sobre ser um seguidor de Jesus sem fazer o que ele fez que é magia”, argumentou.
Para Witcher os líderes da igreja não querem que as pessoas saibam sobre isso para manter os fiéis como “escravos”. “Na maioria das vezes, quando as pessoas são contra magia, feitiçaria, misticismo, ocultismo, a nova era… elas não sabem que a Bíblia não é contrária à magia.”
No vídeo de divulgação da Convenção de Bruxas Cristãs, que será realizada de 15 a 21 de abril, a pastora Love disse no último dia do evento, o Domingo de Páscoa, as bruxas e bruxos se reunirão para o primeiro culto dentro de uma igreja na cidade.
Jennifer LeClaire, que foi uma bruxa por muitos anos, antes de conhecer Jesus e ser liberta, que acompanha o movimento cristão de bruxaria há vários anos. Ela diz que essa mistura de bruxaria e cristianismo é “perigosa”.
“Temos visto a ascensão de cristãos praticando feitiçaria. Ou talvez eles não sejam cristãos de verdade. Eu não vou julgar a salvação de alguém, mas quando as pessoas na igreja liberam maldições, oram contra você e fazem jejum para destruí-lo, o fruto do Espírito está claramente ausente “, lamentou. “Gálatas 6 relaciona tanto o fruto do Espírito quanto as obras da carne. A bruxaria está entre eles.”
Reunidas em círculo, mulheres de capuzes e túnicas pretos, com um símbolo místico vermelho nas costas, baixam a cabeça e fazem um momento de silêncio. Sua líder vai ao centro e começa a entoar orações misturadas com slogans políticos. “Que venha com grandeza, o poder da Rússia, que guie o caminho de Vladimir Putin de forma correta por meio de minha reza. Respire, Mãe Terra, abraçando a Rússia por todos os lados”, diz a autoproclamada chefe do grupo, Alyona Polyn.
Enquanto as outras mulheres fazem gestos de concordância, ela prossegue: “Ó, poder primordial, regresse ao abismo aqueles que odeiam a Rússia. Que a Rússia se levante e se afaste da penúria e da pobreza e que os próximos dias abram as portas da felicidade”.
Estas mulheres fazem parte do “Império das Bruxas Mais Poderosas”, um grupo ocultista de feiticeiras russas que realiza com frequência “círculos mágicos de poder” para demonstrar seu apoio ao país e seu presidente.
O último encontro ocorreu na terça-feira na região central da capital russa, Moscou. As invocações patrióticas e a favor de Putin que permearam a cerimônia foram noticiadas por diversos veículos.
“Uma pessoa deve apoiar o governo e a Vladimir Putin antes e acima de tudo”, disse uma das bruxas, chamada Yulia.
Outra integrante do grupo disse à agência de notícias Reuters: “Nosso país enfrenta tempos difíceis, e gostaríamos de apoiar o presidente com a ajuda dos nossos poderes. Queremos que os vilões [que atacam Putin] fiquem em silêncio”.
Sua líder, Polyn, se autodefine como a bruxa principal do grupo, fundadora do Império e herdeira de uma sabedoria ancestral. Ela contou a veículos russos que suas cerimônias sempre têm manifestações de apoio ao país e ao presidente, “já que ele é o rosto da Rússia”. Também afirmou que uma bruxa nunca deve falar mal de Putin.
O evento e sua divulgação na imprensa geraram críticas de setores da oposição, porque, no mesmo dia, autoridades do país condenaram a seis anos de prisão um dinamarquês que é Testemunha de Jeová, denominação religiosa considerada uma organização “extremista” e proibida na Rússia desde 2017.
Mas quem são as mulheres do Império, que, com rituais e feitiços, manifestam seu apoio incondicional ao Kremlin?
Quem são as bruxas do Império
Jüri Maloverjan, correspondente do serviço russo da BBC, explica que o grupo é formado por dezenas de integrantes, em sua maioria mulheres, que compartilham a crença nos rituais criados por Polyn, considerada por meios de comunicação do país como a “bruxa mais proeminente de Moscou”.
Segundo ela própria, seus conhecimentos foram herdados de sua família e usados como base para a criação do “maior grupo de feiticeiros do país”. Seus membros costumam se apresentar com outros nomes ou usam apelidos que fazem alusão a elementos mágicos ou ingredientes tradicionais de magia, como Christina Mandrágora.
Ainda que seja incerto o número total de membros, o grupo se autodefine em seu site como a “única organização pra todos os envolvidos com magia e feitiçaria” a nível mundial e oferece serviços que vão de leitura de cartas de tarô a remédios contra maldições ou feitiços para atrair o amor. Os preços giram em torno de US$ 80 (R$ 300) e chegam a passar de US$ 150 (R$ 560) em alguns casos.
Maloverjan diz que o ocultismo e tudo que é vinculado a horóscopos e bruxaria são práticas bastante populares na Rússia e muito presente em seu folclore, ainda que fossem mal vistos e até mesmo proibidos durante a era soviética. Estima-se que esse movimento muito mais popular na Rússia do que em qualquer outro lugar da Europa Ocidental.
Por isso, avalia ele, muitos encontraram nisso uma forma de ganhar dinheiro nos últimos anos. De acordo com dados do Ministério da Saúde russo, citadas pelo jornal The Moscow Times, mais de 800 mil russos prestavam serviços como curandeiros, médiums, videntes, entre outras atividades do tipo, em 2017.
Aprovação ao governo permite que grupos permaneçam na legalidade
Mas analistas russos destacam que, diante das restrições a outras denominações e cultos religiosos na Rússia, muitos viram que demonstrar seu apoio ao governo é uma forma de manter seus ritos na legalidade – e também de marketing.
Após a queda do regime soviético, o cristianismo ortodoxo voltou a ser a principal religião da Rússia: estima-se que 75% da população o pratiquem. Mas isso não impediu que outros cultos mais próximos do folclore nacional também florescessem.
Putin mantém-se próximo de líderes da Igreja ortodoxa, o que, em certa medida, fez com que, no ano passado, a Ucrânia se separasse formalmente desta corrente cristã.
Maloverjan explica que Putin nunca demonstrou inclinações a práticas ocultistas, ainda que o apoio de grupos assim ao presidente garanta sua legalidade.
O presidente russo já foi premiê do país no início deste século e venceu sua mais recente eleição em março de 2018, com mais de 76,69% dos votos, segundo dados oficiais. Está em seu quarto mandato presidencial, que vai até 2024.
E, ainda que sua popularidade tenha caído por algum tempo para seu menor índice histórico após uma reforma do sistema de pensões, ele segue com um apoio significativo em vários setores da população. Por isso, diz Maloverjan, demonstrar estar ao lado de Putin é uma forma de grupos como o Império de conquistar aceitação entre os apoiadores do presidente.
Nas redes sociais russas, muitos questionam se o Império usa tais pronunciamentos políticos para se manter nas manchetes e atingir mais pessoas, a ponto de ter rezado pelo presidente americano Donald Trump. O grupo também tem sido acusado de enganar pessoas com suas práticas.
A iniciativa foi elogiada por veículos oficiais russos, que compararam o apoio das bruxas a Putin com outros rituais de protesto de outros grupos de feiticeiros contra Trump e seu governo.
“Bruxas de todo o mundo planejaram um grande ritual contra Trump e ‘todos que o instigaram’ em 2017”, recordou a emissora RT, que também mencionou um ritual mágico para evitar que Brett Kavanaugh, indicado por Trump à Suprema Corte do país, assumisse o posto. Esse, pelo menos, não surtiu efeito. Em outubro do ano passado, Kavanaugh foi confirmado pelo Senado e tornou-se o novo ministro da mais alta instância da Justiça americana.
Costume da Papua Nova Guiné é revertido por cristãos
por Jarbas Aragão-gospelprime
Missionários salvam “bruxas” da morte
Quando um surto de sarampo começou a matar moradores de uma aldeia remota em Papua Nova Guiné (PNG), a cultura local apontava para um trabalho de bruxaria. Logo, quatro mulheres foram acusadas de serem responsáveis e por isso seriam mortas.
Graças a intervenção de missionários cristãos que trabalhavam na região, elas foram salvas da execução. O ocorrido foi saudado como uma vitória no esforço do governo para erradicar os ataques relacionados a bruxaria em Papua Nova Guiné, mas os missionários acreditam que a violência continuará.
A província de Enga ainda vive num sistema tribal, onde as leis que prevalecem são culturais. A polícia foi chamada pelos missionários. Quando os ânimos se acalmaram, os missionários tentaram explicar o que é uma doença e por que eram contrários à pena de morte.
O vice-comandante da polícia de Enga, Epenes Nili, disse que sem a denúncia dos missionários o pior teria ocorrido. Ao final da conversa com as autoridades, as mulheres acusadas se comprometeram a não mais realizar seus feitiços.
Em PNG, responsabilizar a bruxaria por problemas é algo que está arraigado em algumas partes do país. Geralmente, as bruxas são torturadas e exige-se que “retirem o feitiço”. Se não ocorre o esperado, são queimadas vivas. Enquanto o governo tem feito alguns esforços, o trabalho mais consistente de combate à violência é muitas vezes deixado para grupos de igrejas e ONGs.
Philip Gibbs que faz trabalho missionários na província de Western Highlands de PNG, relata que muitas vezes eles são chamados a intervir. Para ele, a única solução é uma mudança na maneira dessas pessoas verem o mundo. Sem minimizar a existência de espíritos que podem atuar no mundo físico, Gibbs acredita que seu trabalho é “enfatizar que a fé cristã está lá para ajudar as pessoas a ter uma vida melhor e poder curar as pessoas.” Com informações The Guardian