Crescendo no Irã, Padina memorizou o Alcorão antes mesmo de começar a ir para a escola. Ela recitava fielmente suas orações todos os dias.
“Eu odiava os cristãos e fiquei muito feliz quando descobri que eles estavam sendo perseguidos. Eles sempre nos disseram que, se matássemos um cristão, nós tínhamos uma passagem só de ida para o céu”, disse ela a Hormoz Shariat, presidente do ministério cristão ‘Iran Alive’.
Ela era exigente em aplicar o Alcorão à sua vida. Se ela esquecesse a lavagem cerimonial antes da oração, por exemplo, ela pararia no meio da oração, voltaria e lavaria corretamente e começaria tudo de novo.
“Eu era uma crente islâmica muito forte”, afirmou.
Mas toda a sua dedicação religiosa foi em vão para sua própria vida. Ela ficou deprimida a ponto de querer cometer suicídio.
“Eu me sentia tão distante de Alá”, confidenciou a Hormoz.
Enquanto isso, sua mãe, atingida pela esclerose múltipla, ficou gravemente doente.
Padina confidenciou à mãe sobre suas tendências suicidas. Em vez de desencorajá-la, ela chocou Padina, pedindo-lhe para matá-la também – o que resultaria em um suicídio duplo!
“Eu vou fazer isso por você, e nós duas vamos morrer”, disse a mãe à moça.
Mas então um dia, a mãe em seu leito de morte sintonizou a transmissão via satélite de uma pregação do pastor Hormoz Shariat, que tem sido chamado de “Billy Graham do Irã”.
“Se você está sem esperança, se está oprimido, se está planejando cometer suicídio, o Senhor diz: ‘Pare’. Ele tem uma esperança e um futuro para você”, disse Hormoz na transmissão. “Se você está planejando se matar, pare e me ligue agora mesmo”.
A mãe de Padina estava tão desesperada que não se importava que o Islã punisse com a morte aqueles que se convertessem ao cristianismo. Ela não se importava que o Alcorão condenasse todos os “apóstatas” ao inferno. Ela não se importava, então ela discou.
Depois de conversar por meia hora com a equipe de aconselhamento de Hormoz, ela se arrependeu de seus pecados e recebeu Jesus em seu coração com a oração da fé.
Enquanto isso, sua filha estava assistindo tudo da cozinha, alarmada com o que estava acontecendo.
“Fiquei furiosa”, lembrou Padina, acrescentando que começou a atacar e condenar sua mãe.
“Por que nos últimos minutos de sua vida você decide fazer isso?”, Ela acusou. “Agora você vai para o inferno.”
A mãe implorou a Padina para entrar na linha e conversar com o próprio Hormoz.
“Jesus não pode fazer nada”, respondeu Padina à mãe no momento. “Jesus não é nada. Não vou blasfemar contra Alá falando com esse infiel”.
A mãe desabou em lágrimas, mas ainda assim não desligou. Então, ao ver a mãe chorando, Padina cedeu e pegou o telefone.
“Eu vou me matar”, disse Padina friamente a de Hormoz. “E o seu Jesus não pode fazer nada por mim.”
Hormoz tentou convencê-la durante uma hora, mas sem sucesso.
“Você mesma disse: Alá não fez nada por você. Dê a Jesus apenas uma chance”, ele implorou, e então, apostando na intervenção divina, ele tentou ganhar tempo. “Você sempre pode se matar na próxima semana”.
Hormoz lançou o desafio, pedindo que ela desse “uma semana a Jesus” para que Ele agisse e isso intrigou Padina.
“Quando ele me deu esse desafio, pensei: ‘Esta é a melhor maneira de poder servir a Alá’ uma última vez antes de eu me suicidar”, disse Padina.
Ela contra-atacou Hormoz com um ultimato.
“Ok, vou orar”, ela disse a Hormoz. “E na próxima semana, se Jesus não tiver feito nada por mim, farei um vídeo e direi a todos: ‘Vejam, tentei clamar a Jesus por uma semana e nada mudou. E eu vou me matar esta noite. ‘E eu farei isso”.
Sua intenção era provar aos outros que Jesus era falso. Ela permaneceria fiel a Alá.
Mas na manhã seguinte, ela acordou com um som estranho. Aqueles eram os passos da mãe dela.
“Eu vi minha mãe andando”, recorda Padina. “E ela estava andando perfeitamente.”
Padina entrou em pânico. O que estava acontecendo? Ela levou a mãe para o hospital.
Os médicos realizaram exames de sangue e uma ressonância magnética.
“Isso é um milagre”, disse o médico. “Não há nada de errado com ela e ela foi curada. Não há mais sinal da esclerose múltipla em seu corpo”.
Padina ficou desconcertada: “Isso é impossível. Algo deve estar errado com ela”.
“Não há nada de errado com ela”, insistiu o médico. “Isso é um milagre.”
Então ele acrescentou: “Em qual Imã você orou para isso acontecer?”
Padina baixou a cabeça, incrédula, tentando processar as notícias e as implicações. Ela então se lembrou de sua conversa na noite anterior com Hormoz. Ela se lembrou da conversão de sua mãe. Ela viu em sua mente, em um instante, anos das infrutíferas orações a Alá e lavagens cerimoniais e seu semblante amoleceu.
“Não era um imã”, ela disse suavemente para o médico. “Foi Jesus”.
Em um instante, a dureza de seu coração desapareceu. Uma vida de ser perfurado para odiar os cristãos e se submeter com medo a Alá desapareceu. Ela queria viver, não morrer.
Padina vive no Irã com sua mãe hoje. Eles fazem parte do crescente movimento clandestino de cristianismo dentro do Irã.
Eles praticam sua fé com grande risco para suas vidas.
Enquanto o mundo se concentra na ameaça do Irã de desenvolver mísseis nucleares, por trás das manchetes, apesar da repressão da polícia religiosa, a chama do avivamento continua à medida que Deus cresce a igreja.
Boko Haram incendiou a igreja e assassinou o pai de um pastor
por Jarbas Aragão- via gospelprime
Um líder da igreja nigeriana que fugiu da perseguição e refugiou-se em outro país está compartilhando os terríveis detalhes sobre a morte de seu pai. O cristão foi morto por simplesmente recusar-se a negar a Bíblia e ficar com o Alcorão.
Os terroristas islâmicos do Boko Haram incendiaram templo da igreja. O pastor David-Olonade Segun testemunha que ele e sua esposa, que viviam numa região de maioria cristã do sudoeste da Nigéria, lideravam o ministério Assembleia da Vida Vitoriosa, onde ofereciam também serviços vinculados a uma escola, um orfanato e de socorro a viúvas.
Quando o ministério cresceu e eles resolveram expandir para o norte da Nigéria, onde o Islã a religião majoritária, mesmo sabendo que havia riscos. “Sentimos que Deus nos mostrava que devíamos ministrar as pessoas no Norte”, explicou Segun.
O Boko Haram passou a fazer vários ataques na região a partir 2011 e matou milhares de pessoas, visando especialmente os “infiéis”.
O pastor explica que não estava lá quando sua igreja foi atacada, mas aquilo mudou sua vida para sempre. Segun, a esposa e seus quatro filhos saíram para participar de um congresso, onde ele seria o orador principal.
Os jihadistas foram até sua casa, procurando por ele. Sua mãe conseguiu escapar, mas seu pai foi capturado. Agredido, ele disse que seu filho não estava. Os homens foram até a igreja, mataram um pastor assistente e queimaram o templo.
Depois, os soldados do Boko Haram colocaram diante de seu pai uma Bíblia e um Alcorão e disseram que ele deveria escolher um. Quando o cristão disse que ficava com a Bíblia, jogaram gasolina sobre ele e o queimaram vivo.
“Se eles tivessem destruído tudo o que eu possuía, não significaria nada para mim”, afirmou Segun. “Meu pai amava a Jesus e ele me ensinou a ser forte.
No final, além de perder o pai, o pastor viu tudo o que trabalhou para construir por mais de 18 anos. Temendo ser morto também, decidiu ir para os EUA com a família, onde tenta recomeçar a vida.
Apesar da grande perda que a família enfrentou, o pastor continua orando pelo seu país. “Às vezes eu penso: ‘Deus, e se o Boko Haram tivesse vindo um dia antes? Acho que Deus decidiu nos salvar com um propósito. Eu também penso nisso… Eu oro pelos cristãos no norte da Nigéria, poi eles estão sendo mortos todos os dias. “
A Nigéria é o 14º país que mais persegue cristãos no mundo, segundo o ranking da Portas Abertas. Com informações de Christian Post.
A trágica combinação de um conflito étnico e sectário, da conivência internacional e, acima de tudo, do sofrimento de inocentes
POR ANDREW TABLER, THE ATLANTIC; TRADUÇÃO POR MARIANA NÂNTUA
Após sete anos de reviravoltas terríveis na guerra civil da Síria, é difícil lembrar que tudo começou com um pouco de grafite.
Em março de 2011, quatro crianças na cidade de Daraa, no sudoeste do país, grafitaram num muro “Chegou sua vez, Doutor” — uma previsão não tão sutil de que o regime do presidente da Síria, Bashar al-Assad, um oftalmologista que estudou na Inglaterra e autodenominado reformista, acabaria do mesmo jeito que o regime de Ben Ali, na Tunísia, o de Mubarak, no Egito, e, eventualmente, o de Gaddafi, na Líbia. Mas a história da Síria seria diferente.
A repressão do governo começou aos poucos. O serviço de segurança de Assad prendeu os quatro grafiteiros, recusando-se a informar aos pais onde eles estavam. Depois de duas semanas de espera, os moradores de Daraa — conhecidos por serem diretos e passionais — realizaram protestos, exigindo a liberação das crianças. O regime retaliou disparando tiros e matando manifestantes, sendo o primeiro a derramar sangue numa guerra que já levou à morte cerca de meio milhão de pessoas. Cada novo funeral trazia mais oportunidades para protestos — e para a represália violenta do governo.
As manifestações se espalharam rapidamente a outras cidades — como Homs, Damasco, Idlib—, incendiando o que é, ao menos no nome, a República Árabe da Síria. A dinâmica fundamental que levou a essas ondas de protestos árabes — uma população jovem crescente e um regime repressivo e rígido, incapaz de mudanças — foi consistente em vários países. Mas os efeitos foram bastante diferentes, e mais ferozes ainda, na Síria, onde a esperança inicial de que Assad seguiria o caminho de outros ditadores foi desmoronada com as ruínas das cidades antigas e com as vidas despedaçadas de seu povo. A progressão da brutalidade do regime, desde a contratação de franco-atiradores para matar manifestantes que exigiam liberdade e dignidade até ataques a cidades inteiras com uso de armas químicas, ocorreu em tempo real, com o mundo todo assistindo.
Agora o mundo observa novamente, por meio de fragmentos de mensagens em redes sociais, o que parece ter sido um ataque com armas químicas a um reduto de rebeldes. Também assiste às investidas dos Estados Unidos e aliados em retaliação e ouve as alegações do Pentágono de que o bombardeio de três instalações associadas ao programa de armas químicas de Assad foi um sucesso. A história da Síria, partindo do grafite e passando pela quase derrubada de seu ditador até a retomada de controle desse mesmo tirano sobre um país despedaçado, é uma história de conflito étnico, conivência internacional e, acima de tudo, sofrimento de civis. E não vai acabar tão cedo; na verdade, está entrando em uma nova fase, talvez ainda mais perigosa.
Há tempos que pessoas influentes, com poder de decisão, têm visto o regime de Assad como um modelo sombrio da estabilidade do Oriente Médio, mas em 2011 consideraram, subitamente, que o “poder do povo” poderia levar à queda do presidente na Síria, como ocorreu com outros déspotas árabes. Esse governo, porém, possuía algo que os outros não tinham. Estratégias de “resistência popular” são eficazes contra sistemas autoritários, cuja liderança faz parte da maioria étnica e sectária do país, como no Egito. Soldados que são ordenados a apontar suas armas a manifestantes enfrentam uma escolha: atirar em seus companheiros no protesto ou auxiliar na derrubada dos comandantes. Isso causa uma ruptura no Exército e nos serviços de segurança, o que pode levar a uma derrubada do regime.
Entretanto, o governo de Assad é de minoria com uma certa fortaleza de interesses sectários em volta dele. A minoria alauíta encontra-se no núcleo, seguido por outras ao redor (cristãos, xiitas etc.), até chegar finalmente aos sunitas, que representam a maioria na Síria. O Exército e os serviços de segurança, compostos por minorias, acabam ficando distantes da maioria sunita, o que os torna mais inclinados a atirar nos manifestantes do que a tirar seus companheiros do poder. Isso protegeu Assad contra o tipo de ruptura que derrubou Ben Ali e Mubarak.
Mas esse fato evidentemente não foi levado em conta pelo presidente Obama quando, em agosto de 2011, declarou que Assad deveria “afastar-se do cargo”, como se o líder da Síria fosse magicamente sair por conta própria. Para acelerar o processo, Obama recomendou que aliados europeus e da Liga Árabe adotassem o mesmo discurso e uma série de sanções ao regime sírio, particularmente proibindo a importação de petróleo, cujo setor é um dos mais lucrativos do país. O que faltava era um plano para remover Assad, caso ele não saísse de maneira pacífica.
E ele não iria sair. No segundo semestre de 2011 e na primeira metade de 2012, várias iniciativas da ONU falharam e não conseguiram estabelecer um cessar-fogo sustentável ou uma solução para as hostilidades. Enquanto governos ocidentais apelavam aos sírios para que se manifestassem de forma pacífica, o exército do regime aumentou a quantidade de franco-atiradores, de milicianos de minorias chamados de “fantasmas” e de aeronaves de asas rotativas e fixas, causando um aumento vertiginoso no número de mortes. Mais e mais sírios pegaram em armas para se defender e centenas de milícias locais se organizaram sob a bandeira do Exército Livre da Síria (ELS). A insígnia inclui a antiga bandeira nacionalista, mas o ELS era mais uma franquia que um exército de verdade.
A revolta transformou-se numa guerra civil. Quando, no verão de 2012, a Rússia e os Estados Unidos ofereceram um plano de transição para ajudar a dar um fim à violência, ambos os lados da luta ignoraram a ideia, achando que poderiam derrotar o outro no campo militar. Inclusive, parecia que os rebeldes estavam com vantagem: em julho daquele ano, um grupo conseguiu tomar metade de Aleppo, o centro industrial e a maior cidade da Síria. A partir daquele momento, estabeleceu-se um padrão: quando o regime enfrentava perdas severas, recorria a medidas extremas. As forças de Assad em Aleppo resistiram, mantendo o domínio da parte ocidental da cidade e disparando mísseis Scud em bases rebeldes; tornaram-se o segundo maior usuário, depois de Najibullah, no Afeganistão, a lançar essas armas contra seu próprio povo. O número de mortes e o fluxo de refugiados aumentaram consideravelmente.
A diplomacia foi ofuscada pela batalha, e os Estados Unidos e aliados encaravam decisões difíceis. Em primeiro lugar, o que fazer com a oposição da Síria, na qual grupos jihadistas cresciam rapidamente, e quais desses poderiam se fortalecer na ausência de esforços externos que cercariam e armariam a oposição nacionalista. Obama, entretanto, rejeitou esses planos. Em vez disso, foi dada a decisão auxiliar, tão importante quanto desastrosa, de deixar que os aliados regionais dos americanos armassem a oposição. Abriu-se um fluxo de dinheiro proveniente de países do Golfo Pérsico, dividindo ainda mais aqueles que lutavam contra Assad e fortalecendo grupos salafistas e jihadistas entre eles.
Em segundo lugar, algo que acarretaria um ponto crítico na guerra: relatórios de inteligência dos Estados Unidos afirmavam que Assad estava preparado para intensificar ainda mais os ataques, usando sua reserva de armas químicas; naquela altura, calculava-se que fosse a maior da região, se não do mundo. Em 20 de agosto de 2012, numa coletiva de imprensa, Obama declarou que “a movimentação e o uso de armas químicas ultrapassariam uma linha vermelha para nós”. Enquanto a guerra seguia no segundo semestre, mais relatórios e amostras indicavam que o regime de Assad havia começado a usar agentes químicos em baixa concentração.
Naquele momento, o número de mortes já estava altíssimo, e a estimativa do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) era de cerca de 50 mil mortos até o fim de 2012 e quase meio milhão de refugiados.
A Síria estava afundando rapidamente. Indícios de uso de armas químicas acumulavam-se, refugiados escapavam e dinheiro continuava a chegar até grupos jihadistas, incluindo aquele que se tornaria, no futuro, o Estado Islâmico (EI). Novos combatentes entravam em campo. O Hezbollah e as milícias com apoio iraniano operavam com o regime de Assad, enquanto no nordeste quem mandava eram os guerreiros curdos, numa tentativa de assegurar sua própria autonomia. Enquanto o país se despedaçava, organizações terroristas preenchiam vazios de ambos os lados.
Até a metade de 2013, grupos de oposição ganharam ainda mais espaço em Damasco, capital da Síria. Por desespero militar ou por brutalidade pura, Assad dobrou o uso de armas químicas. Em 21 de agosto de 2013, quase um ano após Obama delimitar a fatídica “linha vermelha”, os militares sírios lançaram foguetes cheios de sarin em Ghouta, na região leste de Damasco, um ataque que, de acordo com estimativas dos Estados Unidos, matou cerca de 1.400 civis. Enquanto navios de guerra reuniam-se na costa da Síria para uma possível retaliação, Obama voltou atrás sob pressão do Congresso e de sua base de apoio, optando pela proposta da Rússia, que supostamente livraria a Síria de armas químicas.
Essa reviravolta dramática acarretou, para os Estados Unidos, a dissipação do pouco apoio que ainda tinham da oposição síria. Numa viagem ao sul da Turquia naquele período, conversei com representantes da oposição, que me disseram que estavam furiosos com a decisão. Muitos acreditavam que Assad havia utilizado armas químicas e saído impune, mas a maioria estava surpresa de que Washington acreditasse que o acordo impediria o regime sírio de fazer tudo de novo — uma conclusão tragicamente presciente.
O fluxo de refugiados atingiu 2 milhões em setembro de 2013.
Como era de se esperar, o EI se expandiu pela Síria e pelo Iraque. Em 2014, seu território tinha aproximadamente o tamanho da Grã-Bretanha, e os militantes agora estavam ameaçando não só o regime de Assad como também o Iraque, no qual Washington havia gastado bilhões de dólares para remendar grosseiramente. Foi nesse momento que o governo Obama decidiu atingir a Síria. Enquanto manchetes internacionais focavam na execução de americanos reféns do EI, mais de 76 mil sírios foram mortos apenas em 2014, o maior número de mortes anuais do conflito, e 1,3 milhão de sírios fugiram para países vizinhos. Centenas de milhares tiveram de se deslocar dentro da Síria também.
Os Estados Unidos não estavam mirando diretamente em Assad — embora Obama tivesse dado início a um programa secreto para armar parte da rebelião —, mas a força do regime estava diminuindo à medida que rebeldes apoiados pelos americanos chegavam ao centro das operações alauítas, ameaçando a base sectária do presidente sírio. Talvez isso explique a resistência de Assad ao acordo das armas químicas, perdendo prazos para mover suas reservas para fora do país mesmo enquanto vinham à tona relatórios que afirmavam que ele não havia declarado todas elas.
Alarmes disparavam em Moscou, mas por causa de outro problema. A preocupação não era com o ritmo da implementação do acordo, mas com seu aliado sírio, que se encontrava numa posição perigosa: Assad tinha um número limitado de tropas que poderia preparar para combate e estava perdendo território mesmo com a ajuda de milícias apoiadas pelos iranianos. Poucos dias após os Estados Unidos assinarem o acordo nuclear com o Irã em 2015, Qassem Suleimani, comandante das operações externas do Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica, viajou a Moscou; em cerca de um mês, a Rússia havia estabelecido uma base que ameaçava o domínio alauíta do distrito de Lataquia, na costa do Mar Mediterrâneo. Durante o outono de 2015, aeronaves russas derrubaram bombas “de mentira” da época da Guerra do Vietnã em apoio ao governo de Assad e a forças iranianas por toda a Síria, revertendo lentamente as perdas do regime no distrito e permitindo que grupos do presidente sírio e dos iranianos marchassem até Aleppo.
Mais 1 milhão de sírios fugiram do país, muitos deles indo além da Turquia, para vários países europeus. Mais de 55 mil morreram em 2015, aumentando o total de mortos no conflito para mais de 250 mil pessoas, com uma estimativa de mais 100 mil mortes não documentadas.
Os Estados Unidos, agora encarregados de derrotar o EI e apoiar a oposição síria, cederam. Isso fez com que a Rússia e o Irã tentassem firmar um cessar-fogo e conversar sobre o fim da guerra — ainda que os russos continuassem a alertar a respeito da posição de rebeldes, permitindo que o restante do exército de Assad e das milícias patrocinadas por iranianos, incluindo o Hezbollah, avançasse contra eles. No verão de 2016, essa força híbrida cercou e pulverizou o leste de Aleppo. Os Estados Unidos passaram a assistir a um de seus aliados desafiar o outro, enquanto a Turquia invadia a Síria para impedir que forças curdas apoiadas pelos americanos consolidassem seu território. O povo americano estava focado no resultado das eleições de 2016; no entanto, o povo sírio concentrava-se em fugir, com cerca de 11 milhões de pessoas — a metade da população da Síria antes da guerra — movimentando-se para países vizinhos ou dentro de seu país. A queda de Aleppo veio no fim de dezembro, levando milhares de oposicionistas até a província de Idlib, onde muitos comentaristas pró-Assad alegavam que os rebeldes seriam encurralados e massacrados.
Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tomava as rédeas de Washington, o regime de Assad desviava a atenção para Idlib e áreas no sudoeste da Síria, adjacentes a Israel e Jordânia, que estavam sendo controladas pelos rebeldes. Vendo com mais atenção, entretanto, percebeu-se que essa força era, mais do que nunca, composta por grupos apoiados por iranianos e integrantes do Hezbollah. Rebeldes financiados pelos americanos lutaram contra eles, fazendo o regime recuar apesar do suporte aéreo da Rússia.
Esse era o contexto da guerra quando o governo Trump deparou com seu primeiro ataque com armas químicas na Síria, em abril de 2017, na vila de Khan Shaykhun, em Idlib. As Nações Unidas acabaram confirmando o uso do agente nervoso sarin — uma substância da qual Assad teria, supostamente, se livrado. Dessa vez, em vez de tentar chegar a um acordo, Trump atingiu a base aérea responsável pelo ataque.
Ainda assim, Washington se viu lutando contra um dos inimigos de Assad, o Estado Islâmico. No verão de 2017, os Estados Unidos, a Rússia e a Jordânia assinaram um acordo para diminuir consideravelmente as lutas em partes do país, permitindo que o governo lançasse uma ofensiva contra o grupo jihadista. Com o exército esgotado, eles dependiam, em parte, de contingentes de milícias xiitas e unidades organizadas pelos russos. Eles esperavam que as áreas sunitas liberadas do controle do Estado Islâmico dessem boas-vindas à ofensiva do regime, mas sua brutalidade, junto com xiitas integrantes da força financiada pelo Irã que vinham ocupar áreas sunitas, fez com que a maioria dos deslocados internos fosse em direção a zonas dominadas pelos curdos.
O Estado Islâmico, no entanto, não era a única prioridade do regime, muito menos a mais importante. No começo de 2018, Assad lançou uma ofensiva para tomar o controle de Ghouta — o local dos ataques químicos de 2013, onde havia a última grande presença de oposicionistas perto da capital da Síria. O regime e as milícias financiadas pelo Irã conseguiram dividir esse espaço em dois, enquanto a Rússia tentava evacuar civis e soldados para outras áreas. Quando esses diálogos sucumbiram, o governo sírio ordenou um ataque militar para tomar Ghouta à força. Seja por ter um número limitado de militares, por pura brutalidade ou por ambos, Assad novamente apelou para o uso de armas químicas, matando dezenas de pessoas e ultrapassando, mais uma vez, a linha vermelha de Washington.
E mais ataques americanos foram lançados contra alvos do governo sírio. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, James Mattis, caracterizou-os como uma tentativa “única” para impedir o uso de armas químicas, mas não importa o que venha a seguir; essas armas são apenas uma parte terrível na resolução da guerra civil na Síria, que é possivelmente o maior desastre humanitário desde a Segunda Guerra Mundial. O número de mortes chegou a quase meio milhão de pessoas, embora as Nações Unidas tenham parado de contar. Muitas outras estão feridas e desaparecidas. Um relatório do governo americano alegou que o regime de Assad emprega o serviço de um crematório perto da prisão de Saydnaya, nos arredores de Damasco, o que indica que muitos dos restos mortais jamais serão encontrados. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados estima que 13,1 milhões de sírios necessitam de assistência humanitária, com mais de 6 milhões de deslocados internos e 5 milhões cadastrados como refugiados. Centenas de milhares ainda permanecem sem nenhum registro. Calcula-se que o total de refugiados sírios no Líbano hoje ultrapasse um quarto da população da Síria; na Jordânia, esse número é apenas um pouco menor.
Por si só, isso já é terrível. Mas o fato é que, para muitos países da região, é inaceitável que os ânimos estejam “se acalmando” na Síria. Israel, preocupado com o aumento de milícias e influência iranianas na Síria, bombardeia o país como nunca. A Turquia, preocupada com o crescimento de forças dominadas pelos curdos e ligadas ao arqui-inimigo de Ancara — o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) —, invadiu o nordeste da Síria, retirando os curdos de seu reduto em Afrin e ameaçando fazer o mesmo em Manbij. Enquanto isso, negociações em Genebra e em outros lugares ainda não chegaram a um planejamento viável de cessar-fogo ou qualquer acordo político.
Como a guerra civil no Líbano, a guerra civil na Síria agora ameaça se transformar na Guerra da Síria — um conflito regional que provavelmente queimará durante uma geração inteira. E os civis estão amaldiçoados a viver a guerra, e a morrer nela, todos os dias.