Propaganda eleitoral simula evangelização em ônibus
Campanha de Marina Silva. (Foto: Reprodução / Facebook)
Missionária da Assembleia de Deus, a candidata a presidente pela Rede vem usando um vídeo de campanha que simula algo bem conhecido dos evangélicos. Um homem entra em ônibus cheio de passageiros e começa a pedir atenção.
Porém, ao invés dos conhecidos sermões rápidos de evangelização, ele faz um faz discurso utilizando rimas. Posicionando-se contra a intolerância e pedindo mudanças, tenta associar essas ideias à candidatura de Marina.
No final, mostra-se que o livro que ele carregava não era a Bíblia, mas sim uma cópia da Constituição Federal.
Aparentemente, os marqueteiros da Rede tentaram apelar de forma indireta para os evangélicos, ao mesmo tempo que evitam o linguajar religioso. O ator, vestido com roupa que lembra os pregadores é o rapper Igor Barbosa Gois.
Ele diz na peça política: “Quando foi que o medo tomou conta e qualquer diferença virou uma afronta? Me conta/Que ódio é esse guardado dentro do seu coração?/Só porque está com raiva do governo, vai descontar a raiva no outro irmão? Não”.
Numa menção velada às acusações que Marina já fez a Jair Bolsonaro, o rapper questiona:
“Quem foi que inventou essa mentira/Que o nosso povo não tem mais jeito?/Que as mulheres são menos que os homens e que as minorias não têm os mesmos direitos?”.
No final, remetendo ao apelo comum nesse tipo de ação evangelística, pede que levante a mão quem “acredita que pode viver uma vida melhor”. Terminado seu discurso ele sai do ônibus enquanto lê-se na tela “Marina Silva” e “#Elasim”, outra provocação a Bolsonaro, que vem sendo atacado nas redes com a hastag #Elenão.
Ao avaliar as chances eleitorais de candidatos do Acre ligados à esquerda nas eleições de 1989, o SNI aponta que “Maria Osmarina Silva de Souza”, que ficaria mais tarde conhecida como Marina Silva, é possuidora de “elevado potencial eleitoral”. Segundo o dossiê, Marina era militante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), participava, “há muito tempo”, do movimento estudantil, e tinha “participação marcante nas lutas dos trabalhadores”.
Em 1983, Marina chamou a atenção dos militares por participar de movimento grevista na Universidade Federal do Acre
Jair Bolsonaro é um elemento agitador, cujas atitudes e propósitos podem até servir aos interesses de partidos comunistas. Ciro Gomes integra uma chapa de direita e defende que estudantes não discutam em assembleias temas político-ideológicos. Marina Silva é uma comunista revolucionária. Geraldo Alckmin, por sua vez, não está ligado a atividades subversivas. Aos olhos de hoje, algumas dessas afirmações sobre os atuais candidatos à Presidência da República podem soar inusitadas. Mas era assim que o Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão de inteligência e espionagem da ditadura militar, os viam há cerca de 40 anos. ISTOÉ teve acesso a documentos que hoje estão no acervo da Biblioteca Nacional. Os arquivos com tarja de “confidencial” revelam que os principais candidatos à Presidência foram monitorados pelo serviço de arapongagem, durante o regime militar e mesmo anos depois, no período em que o SNI continuou existindo após a redemocratização, no governo José Sarney. As exceções são Guilherme Boulos (PSOL), Vera Lúcia (PSTU) e João Goulart Filho (PPL). Os dois primeiros eram crianças. Sobre o terceiro, há apenas rápidas menções em arquivos sobre seu pai, o ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964.
O atual candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, é um dos nomes monitorados mesmo depois de encerrada a ditadura militar. A atenção sobre o ex-capitão do Exército deu-se depois que ele publicou artigo na imprensa reclamando que os salários dos militares estavam baixos. No artigo, Bolsonaro tecia críticas ao Exército por sua política salarial. O texto levou Bolsonaro a ser preso por 15 dias, acusado de insubordinação. O relato produzido pelos arapongas diz que as atividades de Bolsonaro tiveram “reflexos negativos” em escolas militares, como no Rio Grande do Sul, e em Centros de Operações, como o do Pará, onde três oficiais demonstraram apoio ao capitão reformado e dois foram punidos por cometerem transgressão disciplinar grave. Hoje, Bolsonaro é inimigo declarado do comunismo. Na época, o SNI chegou a dizer que as ações de Bolsonaro davam combustível ao PCB e ao PCdoB. “Em outubro de 1986, os comitês central e regional do PCB e do PCdoB instruíram seus militantes para que explorassem ao máximo o descontentamento salarial dos militares, criado a partir da entrevista do nominado (Bolsonaro)”, diz o documento do SNI classificado como ACE 72164/89. Os arapongas colaram em Bolsonaro durante o ano de 1988, diante da sua pretensão de lançar-se candidato a vereador pelo Rio de Janeiro. O hoje candidato do PSL distribuía panfletos na Vila Militar e organizava churrasco para os colegas. “Causa repercussão negativa o fato de o nominado trajar camisetas com sua propaganda eleitoral, bem como colocar adesivos alusivos à candidatura de vereador com o número de inscrição e os dizeres: a crise é de homens”, descreve o documento. “Em sua campanha, tenta aliciar cabos eleitorais de outros candidatos de seu partido”, complementa um informe do dia 16 de setembro de 1988.
CIRO GOMES E A “CHAPA DE DIREITA”
Documento do dia 25 de setembro de 1979 menciona Ciro Gomes com um dos integrantes da chapa “Maioria”, liderada por Marcos Martins Paulino. Ela era classificada por estudantes como “uma chapa de direita”. Ciro era candidato a vice nacional. O SNI diz que seu grupo iria “lutar pela democracia (…) ao contrário daqueles que a defendem como meio de chegar ao poder para, depois, transformá-la em totalitarismo”. O documento ainda revela que Ciro, numa assembleia, “concitou os presentes a colocarem em debate assuntos puramente estudantis, evitando abordagens de temas político-ideológicos”
Os documentos mostram que Marina Silva, hoje candidata pela Rede, durante muitos anos teve também seus passos vigiados de perto. Em 1983, a estudante Maria Osmarina da Silva chamou a atenção dos militares por sua participação em um movimento grevista ocorrido na Universidade Federal do Acre, após a reitoria tentar aumentar o preço do bandejão de 100 cruzeiros (aproximadamente R$ 2 em valores atuais) para até 400 cruzeiros (R$ 8 em valores atuais). Marina foi apontada como um dos “elementos” que estiveram à frente das ações. “Indiscutivelmente, a vitória do movimento significa o fortalecimento do ME/AC, cujos líderes encontravam-se até então, desgastados junto à classe estudantil”, esclarece o relatório do SNI, da Agência de Manaus, de 20 de setembro de 1983. Com o tempo, Marina também foi espionada pelas suas relações com o Partido Revolucionário Comunista (PRC), conforme relatório do Comando do Exército de dezembro de 1987, que cita um episódio envolvendo o então presidente estadual do PT, Antônio Rodrigues. O petista isolou politicamente Marina e seu parceiro Francisco Mendes, mais conhecido como Chico Mendes. A candidata da Rede ainda foi acompanhada pelo SNI no final dos anos de 1980, durante as eleições municipais daquele ano, quando concorreu a uma vaga na Câmara Municipal de Rio Branco. O relatório aponta para as suas grandes chances de vitória.
O candidato do PDT ao Planalto era visto pelo SNI como alguém mais próximo do viés ideológico do regime militar
Tal qual Marina, Fernando Haddad, o real candidato do PT à presidência da República diante da impossibilidade legal da candidatura de Lula, começou a ser observado pelos militares ainda como integrante do movimento estudantil. Mais precisamente quando era presidente do Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. A espionagem relacionada a Haddad relaciona-se ao monitoramento do Plenário Pró-Participação Popular na Constituinte, naquela época ainda em fase de elaboração por conta dos movimentos das Diretas Já. O relatório do SNI mostra Haddad como participante do evento, ao lado de políticos então do PT, como Eduardo Suplicy e Márcio Thomaz Bastos. Fonte: Isto é independente
Programa de governo também defende adoção de crianças por casais homoafetivos
Marina Silva fala em convenção da Rede. (Foto: AFP)
Candidata à Presidência pela Rede, Marina Silva, esteve nesta terça-feira (14), em Belo Horizonte, em um debate com pastores de igrejas evangélicas de todo o país. O encontro ocorreu a portas fechadas, mas teve repercussão na imprensa.
Entre as propostas de Marina, que terá apenas oito segundos na TV estão a realização de plebiscitos para legalização do aborto e das drogas no país. Ela já havia falado sobre isso em suas outras campanhas.
Conforme era esperado, a legalização do aborto, foi o tema mais polêmico no debate com os líderes evangélicos. “Defendi o que defendo desde 2010, de que existem formas reconhecidas na lei brasileira, mas se for ampliar, que se faça um plebiscito. Sobre as drogas, tenho posição de conhecimento público, que se faça um ascultamento da sociedade, como ocorre na maioria dos países do mundo”, reforçou.
Ex-ministra do Meio Ambiente no primeiro governo Lula e senadora do Acre pelo PT, ela tenta se apresentar como alguém que não faz parte do ‘sistema político’ atual.
Apesar de ser missionária da Assembleia de Deus, historicamente Marisa sempre tentou se afastar do “rótulo” de candidata evangélica e não defende abertamente as pautas conservadoras. Ainda assim, no programa do pastor Caio Fabio, ela declarou: “Só posso agradecer e pedir a Deus que não sejam envergonhados por minha causa aqueles que confiam em Deus””.
Programa “inclusivo” de governo
O programa de governo da Rede prevê que “o direito ao casamento homoafetivo” deve ser protegido por lei. Isso consta das diretrizes programáticas protocoladas pela Rede no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e que foram divulgadas pela Folha de São Paulo.
“O Conselho Nacional de Justiça regulamentou a celebração de casamento civil de pessoas do mesmo sexo, através da Resolução 175/13. Acataremos a demanda de que os direitos decorrentes dessa decisão sejam protegidos por lei”, diz o texto.
Marina defende ainda adoção de crianças por casais homoafetivos. “Em casos de adoção, defendemos que seja oferecido tratamento igual aos casais adotantes, com todas as exigências e cuidados iguais para ambas as modalidades de união, homo ou heteroafetiva, atendendo à prioridade de garantir o melhor interesse da criança”, declara o documento da Rede. Com informações de O Globo e Folha de São Paulo