Por Tiago Rosas
A Lição de hoje e as demais desse trimestre irão focar na vocação e obras de Davi, o mais destacado personagem dos dois livros de Samuel. Não seria nada estranho se esses livros em verdade se chamassem 1 Davi e 2 Davi, pois neles predominam relatos sobre o jovem filho de Jessé e também vitorioso rei de Israel.
A Lição de hoje se detém aos episódios da unção de Davi na casa de seu pai e os fatos que sucederam este evento, antes que Davi viesse assumir o trono (o que será tratado mais especificamente na Lição 9). Com a Bíblia em mãos, estudemos tão preciosa Lição!
I. Davi: o rei ungido
1. Significado e propósito da unção
O Dicionário Bíblico Wycliffe (CPAD) nos traz detalhada definição do verbete UNÇÃO, dentre o que destacamos este trecho que nos é suficiente quanto à unção ministrada sobre pessoas (sacerdotes, profetas e reis) como também sobre coisas ou objetos (como toda a mobília do Tabernáculo):
“A unção separava o objeto ou a pessoa para um serviço especial à Deus, tornando-se dessa forma sagrada e intocável (1Sm 24.6; 26.9). A unção era frequentemente considerada um ato de Deus [veja-se, por exemplo, quando o Salmo 89.20 diz “Achei a Davi, meu servo; com santo óleo o ungi”], porque Ele ordenava que fosse feita (cf. 1Sm 9.16 com 10.1), e era associada ao derramamento do Espírito do Senhor (1Sm 10.9; 16.13; Is 61.1)”.[1]
Ainda que nem mesmo Jessé esperasse que o seu filho mais novo Davi fosse objeto de interesse da parte de Deus para receber alguma unção (talvez por isso somente mediante ordem do profeta Samuel é que Davi foi buscado no campo; caso contrário, ninguém o teria chamado – 1Sm 16.11,12), era sobre o menino Davi que estava o chamado e os investimentos divinos para o reino de Israel.
2. O simbolismo da unção
Ainda citamos o Dicionário Wycliffe, segundo o qual,
“os escritores do Novo Testamento entendiam metaforicamente a unção, que consiste em dotar de poder espiritual e entendimento (1Jo 2.20,27). No Antigo Testamento, a unção está associada ao ofício dos reis (1Sm 10.1-9; 16.13), mas no Novo Testamento está associada com Cristo e com aqueles que são testemunhas cristãs, dentro de um contexto de proclamação do Evangelho”.[2]
Portanto, unção diz respeito à separação para o serviço do Senhor e a devida capacitação espiritual para isso. É lamentável ver como hoje esta palavra tem sido mal compreendida e banalizada, especialmente em igrejas pentecostais não bem instruídas, onde costuma-se confundir barulho com unção. Muitas pessoas pensam que cantores e pregadores com unção são aqueles que mais gritam, pulam e correm, ou que conseguem manipular as emoções alheias, ainda que não tenham nenhum conteúdo bíblico, nenhuma música de fato com boa poesia e melodia ou pregação relevante. Não confundamos unção com emocionalismo barato!
3. A unção do rei
Comentando sobre a razão do porquê Davi ter sido ungido “no meio de seus irmãos” e diante de seu pai Jessé, Payne escreve: “Um profeta podia ter um chamado da parte de Deus, mas um homem escolhido para ser rei devia ter algo mais do que apenas uma voz interior a chama-lo, algo de que outras pessoas poderiam duvidar”[3]. Isto é, a unção de Davi para o reino precisava ser mantida acima de qualquer suspeita, e finalmente quando chegasse o tempo de Davi assumir o trono, poderia se dizer em Israel: ele foi ungido para isso!
A unção do Senhor sobre Davi o transformou de jovem pastor ao mais famoso e respeitado rei de Israel em todas as épocas! Como se pode ver a partir do segundo livro de Samuel, e também 1 e 2 Reis e também 1 e 2 Crônicas, Davi se tornou o parâmetro de Deus para os demais reis, sendo a grande referência positiva para todos os que viriam após ele. Diferentemente de Saul que, segundo 1Samuel 10.1, foi ungido com um “vaso” (em hebraico, pak, isto é, frasco ou ânfora de barro/argila, demonstrando a fragilidade do seu reino), Davi, conforme 1Samuel 16.1 (veja as versões ARA, BKJ, NVI, NAA), foi ungido com um “chifre” (em hebraico, qeren, que é símbolo de força, apontando para a força de Davi e a benção de Deus sobre seu governo).
Mais que rei bem-sucedido, Davi veio a ser um tipo do Messias, de quem, de fato, Davi é predecessor na carne. Isto é, Jesus descende de Davi, sendo ambos da tribo de Judá, a tribo donde viriam os reis de Israel, segundo a vontade de Deus, conforme a benção ministrada pelo patriarca Jacó (Gn 49.10). Jesus é muitas vezes aclamado como “filho de Davi” (Mt 1.1; 12.23; 15.22; Mc 10.47), não apenas em referência à sua genealogia, mas muito mais em referência ao seu direito legítimo ao trono sobre Israel.
Todavia, o grande rei Davi pecou; mas o nosso Senhor Jesus é o Davi perfeito! É o Leão da Tribo de Judá (Ap 5.5), é o Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.16)!
Casado, bacharel em teologia (Livre), evangelista da igreja Assembleia de Deus em Campina Grande-PB, administrador da página EBD Inteligente no Facebook e autor de quatro livros: A Mensagem da cruz: o amor que nos redimiu da ira (2016), Biblifique-se: formando uma geração da Palavra (2018), Reflexões contundentes sobre Escola Bíblica Dominical (versão e-book, 2019), e Poder, poder pentecostal: reafirmando nossa doutrina e experiência, à luz das Escrituras Sagradas (lançamento previsto para final de 2019).