Categorias
Cultos

Vaticano vive sem diretriz para combater abusos sexuais, mesmo após anos de denúncias

 
Papa Francisco cabisbaixo
Papa Francisco cabisbaixo

O papa Francisco tomou medidas para enfrentar um crescente escândalo de abuso sexual no Chile, mas não abordou um problema mais próximo de sua casa: a própria Cidade do Vaticano não tem diretrizes para proteger crianças de padres pedófilos ou exigir que suspeitos de abuso sejam denunciados à polícia.

Sete anos depois de o Vaticano ordenar que todas as Conferências Episcopais do mundo desenvolvessem diretrizes escritas para evitar abusos, cuidar das vítimas, punir os infratores e manter os pedófilos fora do sacerdócio, a sede da Igreja Católica não tem essa política.

A lacuna na tolerância zero do pontífice em relação ao abuso é surpreendente, dado que a Santa Sé disse à ONU (Organização das Nações Unidas), há cinco anos, que estava desenvolvendo um “programa de ambiente seguro” para crianças dentro da Cidade do Vaticano.

Perguntado sobre as diretrizes prometidas de proteção à criança, o secretário-geral da administração do Estado da Cidade do Vaticano, monsenhor Fernando Vergez, disse à Associated Press que não poderia responder “já que o estudo e a verificação do projeto ainda estão em andamento”.

Sim, o papa Francisco atualizou em 2013 o código legal da Cidade do Vaticano para criminalizar a violência sexual contra crianças e, no mês passado, o tribunal do Vaticano condenou um ex-diplomata por posse e distribuição de pornografia infantil.

E pode-se argumentar que, além da nova lei, uma diretriz por escrito e um programa de ambiente seguro são desnecessários em uma cidade onde apenas um punhado de crianças vive em período integral.

Mas milhares de crianças passam pelos muros do Vaticano todos os dias, visitando os museus, participando de audiências e missas papais e visitando a praça de São Pedro e a basílica.

Autoridades da Cidade do Vaticano não precisariam procurar muito por ajuda na elaboração de políticas desse tipo. A Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores do papa, seu conselho consultivo de abuso sexual escolhido a dedo, tem um modelo para essas diretrizes em seu site no Vaticano.

A ausência de uma diretriz clara tornou-se evidente no final do ano passado, após revelações de que um seminarista adolescente no seminário juvenil do Vaticano havia, em 2012, acusado um dos garotos mais velhos de molestar sexualmente seu colega de quarto.

Não houve consequências. A polícia do Vaticano, que tem jurisdição sobre o território, não foi chamada para investigar. Uma série de bispos –incluindo o cardeal Angelo Comastri, vigário de Roma em Roma e arcipreste da Basílica de São Pedro– disseram que investigaram, mas ninguém jamais entrevistou a suposta vítima.

O estudante que apresentou a queixa, Kamil Jarzembowski, foi prontamente expulso do seminário enquanto o seminarista acusado foi ordenado sacerdote no ano passado.

A Associated Press descobriu que a vítima desde então apresentou uma queixa formal ao tribunal criminal do Vaticano e as autoridades da igreja italiana lançaram uma investigação canônica sobre o recém-ordenado sacerdote.

Mas isso só ocorreu depois que os jornalistas italianos Gaetano Pecoraro e Gianluigi Nuzzi expuseram o escândalo no ano passado, levando o Vaticano a reabrir a investigação. Em seus relatos, a história de Jarzembowski –incluindo todas as cartas que ele enviou às autoridades da igreja, autoridades do Vaticano e o papa ao longo dos anos– veio à tona.

“Naqueles anos, quando eu estava enviando cartas, nunca houve qualquer resposta”, disse Jarzembowski à AP. “Eu estava realmente sofrendo, porque o silêncio pode ser uma arma real que te machuca quando você sofre. Você faz uma denúncia e ninguém vai lidar com isso.”

Oficiais da igreja haviam descontado a queixa de Jarzembowski, alegando que ele só veio a público com isso porque estava rancoroso por ter sido expulso do seminário. Jarzembowski é realmente rancoroso –o estudante polonês teve de se esforçar para encontrar um lugar para morar e uma nova escola para seu último ano do ensino médio.

O seminário em questão, a poucos passos do hotel no Vaticano onde o papa Francisco mora, serve como residência para cerca de uma dúzia de garotos de 12 a 18 anos e são coroinhas nas missas papais.

Jarzembowski disse que seu colega de quarto foi molestado pelo seminarista mais velho quando ambos eram menores, mas que o abuso sexual continuou depois que o seminarista mais velho completou 18 anos.

O status da investigação não é claro. Ligações e emails para a Diocese de Como, que é responsável pelo seminário e está conduzindo a investigação canônica, não foram respondidos. O porta-voz do Vaticano recusou vários pedidos de comentários.

Mas a falta de uma investigação completa sobre as reclamações originais de Jarzembowski expôs como a ausência de uma diretriz de tratamento de denúncias de abuso pode ter repercussões.

“Se a Santa Sé não pode ser incomodada para proteger o punhado de crianças em seu próprio quintal, como pode proteger os milhões de crianças em seus cuidados em todo o mundo?”, perguntou Anne Barrett Doyle, do banco de dados de pesquisa online BishopAccountability.org. “É uma medida pequena, mas reveladora, da desconexão da Igreja Católica quando se trata de seu problema de abuso. Faz promessas que abandona ou esquece quando a atenção do mundo se desvanece.”

As promessas foram feitas há cinco anos, quando o Vaticano compareceu ao Comitê dos Direitos da Criança da ONU para defender seus esforços para combater o escândalo global de abuso sexual.

A Santa Sé argumentou que a convenção dos direitos da criança da ONU era de natureza “territorial” e que a Santa Sé não poderia ser responsável por implementá-la fora dos confins da Cidade do Vaticano. Dentro da cidade, no entanto, disse à ONU que estava tomando medidas extensas para proteger as crianças.

Não surpreendentemente, o comitê da ONU rejeitou o argumento da Igreja e pediu que a Santa Sé não apenas cumpra com a proteção das crianças dentro do território do Vaticano, mas globalmente.

“Não concordamos com o estreito entendimento da implementação, confinada ao Estado da Cidade do Vaticano”, disse Kirsten Sandberg, que era presidente da comissão da ONU na época.

O Vaticano deveria informar ao comitê em setembro passado sobre o progresso feito desde sua apresentação de 2013. Sandberg disse que os países estão atrasados nos prazos –a Santa Sé estava 14 anos atrasada quando finalmente apresentou suas respostas em 2013.

Ela disse que esperava que a Santa Sé, em seu próximo relatório, seguisse uma recomendação básica para exigir cooperação com a polícia, em vez de manter as investigações exclusivamente internamente.

“Eles devem deixar os casos para as autoridades judiciais”, disse ela.

   Fonte: Associated Press via UOL com tradução de Thiago Varella
Categorias
Artigos Cultos

Defendendo princípios pentecostais: a questão do movimento do reteté

Não há na Bíblia nenhuma recomendação para que as igrejas pratiquem o reteté

A questão do movimento do retetéA questão do movimento do reteté

Apresento ao querido leitor do Gospel Prime algumas considerações que levei à 11ª Escola Bíblica de Obreiros (EBO) da Convenção Fraternal de Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Estado da Bahia, convenção esta que se reuniu entre os dias 29 de junho e 1 de julho em nossa capital. O tema da convenção era “Princípios: defendendo a nossa fé”, e planejei, como tema de minha preleção, o que consta agora como título deste artigo.

Os textos que nos serviram como ponto de partida foram os de I Co 13.11; 14.20-33, 39,40 e Cl 1.26,27, cuja leitura recomendo – os de I Co  referem-se ao exercício dos dons espirituais no culto, e os de Cl aludem ao “mistério”.

Sendo membro e ministro filiado a uma igreja pentecostal histórica (Assembleia de Deus), preocupo-me com algumas crenças associadas, na prática, ao Movimento Pentecostal, entre as quais se acha o denominado “reteté” (ou “repleplé”), o qual, embora estranho ao pentecostalismo histórico ou clássico, parece ser visto por muitos como a própria essência do pentecostalismo.

O reteté – uma praga surgida no seio das igrejas pentecostais na década de 1990 – caracteriza-se por comportamentos esquisitos durante o culto, erroneamente atribuídos ao exercício de dons espirituais num contexto de suposto derramamento do poder do Espírito.

Tais comportamentos anormais incluem cair ou dançar “no Espírito”, ficar estalelado no chão com os braços para cima, gritar (de alegria ou de angústia), urrar (como animais), deitar-se ou rolar no chão, sacudir-se, tremer compulsivamente, ficar em transe, sair correndo pelo salão da igreja, ropopiar, pular, movimentar o corpo para baixo e para cima, marchar, rir descontroladamente, espalmar as mãos e mover os braços de forma circular, entre outros. Algumas dessas atitudes lembram práticas de outras religiões, e já existem aqueles que, em reuniões da igreja, acham que precisam vestir roupa branca ou tirar os calçados dos pés quando assumem o púlpito.

Quando eu era criança, ouvia o termo “meninice” como forma de os assembleianos se referirem ao que hoje conhecemos por “reteté”. “Meninice” é vocábulo derivado do texto em que o apóstolo Paulo diz, tratando dos dons espirituais, que se comportava como menino na época em que era menino, vindo a agir como homem ao chegar à idade adulta (cf. I Co 13.11). Uma outra expressão utilizada pelos meus irmãos assembleianos para aludir a tal tendência era (e é) a mui eloquente (e bíblica) “fogo estranho” (cf. Lv 10.1-3).

A partir de textos como estes, os crentes e líderes assembleianos, de modo simples, mas arguto, reconheciam no reteté um fenômeno divorciado da fé pentecostal e próprio de crentes imaturos.

O termo “reteté” parece consistir numa onomatopeia derivada do som de pés batendo no chão, algo que se verifica frequentemente na atitude de adeptos desse movimento. Criou-se também, nesse meio, um dialeto próprio, que envolve termos como “canela de fogo”, “sapatinho de fogo”, “manto”, “fogo puro”, “terra”, “nébias”, num glossário utilizado tanto pelos praticantes do movimento como por alguns pentecostais clássicos, que o fazem comumente de maneira jocosa.

É importante reconhecer as razões pelas quais o reteté encontrou espaço no ambiente pentecostal, e talvez algumas dessas razões tenham cunho social, cultural e existencial: como as igrejas pentecostais são formadas principalmente por pessoas menos favorecidas, a pregação formal e a liturgia solene das igrejas históricas pode ter ensejado certo distanciamento entre a liderança e o povo, enquanto nas igrejas pentecostais há grande espaço para os leigos, que se manifestam pela oralidade e, no reteté, também pela “corporalidade”*, o que oferece uma sensação de pertencimento e de poder.

Diga-se, aliás, que um dos efeitos do reteté é o empoderamento de figuras aparentemente cheias do Espírito, não raro mulheres, ao lado das quais se veem pastores submissos, ao mesmo tempo encantados com tamanho “poder” e ávidos por auferir os benefícios de um público ampliado. Assim, mesmo igrejas que não ordenam mulheres ao pastorado acabam sendo, na prática, pastoreadas por algumas delas, sendo comum pessoas irem àquela igreja somente quando a irmã está ali “para revelar”.

Outro aspecto digno de nota é o abismo que existe entre três níveis de teologia pentecostal, como explicado pelo pastor e teólogo assembleiano Claudionor Correa de Andrade**: o nível oficial, o nível acadêmico e o nível místico.

Pensemos aqui no campo assembleiano, até porque se trata da maior igreja pentecostal (e evangélica) do Brasil, de onde surgiram tantas dissidências: enquanto o nível teológico oficial é aquele vertido nos livros editados pela CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus) e chancelados pelo Conselho de Doutrina da CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil), o nível místico é o popular, que nasce na vivência do povo; já o nível acadêmico tenta explicar o que acontece no mundo pentecostal, mas frequentemente de maneira pouco acessível ao público comum.

De toda maneira, uma simples pesquisa histórica é capaz de demonstrar que a Assembleia de Deus, tanto em sua teologia oficial como na prédica de seus pioneiros, não endossou o “fogo estranho”, assim como, em nossos dias, não o ratifica.

É certo que o pioneiro Gunnar Vingren passou por experiência incomum de riso (alguns chamam de “riso santo”), mas como reação emotiva à obra de Deus, e não como dom espiritual, marca do pentecostalismo ou experiência que deva ser normativa para o cristão.

Neste passo, chamemos à baila um depoimento do próprio missionário Gunnar Vingren sobre algo que testemunhou em Criciúma-SC***:

Primeiro cantaram um hino. Depois todos tiraram os sapatos e se deitaram no chão num círculo. Depois que todos haviam orado, começaram a pular e a dançar durante mais ou menos meia hora. Depois se puseram de joelhos outra vez e oraram. Eu os exortei a que deixassem essa coisa de dançar, pois isso não está escrito no Novo Testamento, e era uma bobagem que eles deviam abandonar. [Mensageiro da Paz, Ano 79, Número 1.494 – Novembro de 2009].

A Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil (publicada em abril de 2017) em nenhum momento aprova ou anuncia como marca do pentecostalismo aquilo que configura a essência do reteté. Não há no seu cap. XX (dedicado à doutrina do Espírito Santo) uma linha sequer defendendo tal conceito.

Há na internet pronunciamentos de diversos pastores assembleianos brasileiros contra o reteté: Antonio Gilberto, Claudionor Correa de Andrade, Elienai Cabral, Elinaldo Renovato de Lima, Daniel Nunes da Silva. De maneira muito clara e contundente, esses doutos pastores expressam a teologia oficial de nossa denominação. Semelhantemente, o célebre pastor pentecostal David Wilkerson criticou duramente esses cultos extravagantes.

Na história dos avivamentos, houve episódios caracterizados por comportamentos fortemente emocionais, o que não é exclusivo ao mundo pentecostal. Todavia, com o tempo as manifestações tendem a ser explicadas à luz da Bíblia ou controladas sob a supervisão da liderança pastoral, não podendo ser o centro das atenções no culto, nem descambar para o exagero.

Como explica o teólogo pentecostal Paulo Romeiro, movimentos religiosos passam por fases de entusiasmo, organização, educação e estagnação. Podemos afirmar que o reteté seria uma forma de ampliar exagerada e artificialmente a fase do entusiasmo, desconsiderando os bons frutos da educação teológica – é claro que não queremos ser vencidos pela fase da estagnação, mas para isso precisamos de verdadeiro avivamento, e não de “fogo estranho”.

O movimento do reteté parece muito com a “Benção de Toronto”, movimento surgido no início da década de 1990 no seio da Comunidade Vineyard (Videira) do Aeroporto de Toronto, igreja dirigida pelo pastor John Arnott e sua esposa Carol. A matriz da Comunidade Vineyard, pastoreada à época pelo americano John Wimber, é uma igreja da chamada “Terceira Onda”, muito diferente das igrejas pentecostais históricas, classificadas como sendo da “Primeira Onda”.

Em seu livro “Quando o Espírito vem com poder” (publicado pela ABU Editora), John White trata das manifestações espirituais com uma abordagem bíblica, histórica e psiquiátrica. Tendo conhecimento do Movimento de Vineyard, White busca discernir comportamentos biblicamente fundamentados daqueles que são meramente psicológicos ou até demoníacos.

Quanto à maneira de aferir se determinadas manifestações procedem de Deus, White sugere que se observem os “frutos” e também o “pomar”: os frutos são os efeitos que surgem a partir dali: se se produzem ou não mais evangelização, mais fervor, mais santidade, mais ética, mais desejo de conhecer a Bíblia; o pomar é o cenário em que ocorrem as manifestações, se caracterizado pela pregação da Palavra de Deus ou se condicionado por sugestões psicológicas, teatro ou palavras de incentivo a comportamentos bizarros.

Temos de deixar algo muito claro: não há na Bíblia nenhuma recomendação a que as igrejas pratiquem o reteté. E mais: não há personagens bíblicos que promovam o reteté em nome de Deus.

Pelo contrário, as recomendações do apóstolo Paulo quanto ao exercício dos dons espirituais falam de “ordem e decência”, da finalidade dos dons (edificação), da sujeição do espírito do homem ao próprio homem, da necessidade de ordenar e julgar as profecias, da necessidade de interpretar línguas quando estas venham a ser proferidas como discurso. Não há incentivo à desordem, à bizarrice, ao ridículo.

Houve, sim, eventos bíblicos extraordinários que produziram efeitos corporais: quando da dedicação do Templo em Jerusalém, a glória do SENHOR tomou a Casa de tal forma que os sacerdotes não conseguiam se pôr de pé (I Rs 8.10,11); Ezequiel caiu sobre o seu próprio rosto ao contemplar a glória do SENHOR (Ez 1.28; 3.23); Daniel desfaleceu em virtude das visões celestiais recebidas (Dn 10.7-21); Pedro, Tiago e João caíram diante da Transfiguração (Mt 17.12-6); João caiu “como morto” aos pés de Cristo glorificado (Ap 1.17). No entanto, trata-se de eventos especiais, que não podem servir de prescrição para a Igreja, segundo a regra hermenêutica de que “não se deve doutrinar a partir de narrativas”, ressalvando-se os momentos em que a própria narrativa se constrói com propósito doutrinário (caso de Lucas-Atos, em linhas gerais).

Desde, pelo menos, a década de 1990 o pentecostalismo brasileiro tem absorvido influências de igrejas da Terceira Onda como se fossem experiências essencialmente pentecostais, e igrejas chamadas “neopentecostais” têm influenciado a Assembleia de Deus (deveríamos ser mais neotestamentários e nunca “neopentecostais”, tendo em conta o que se acha debaixo do imenso guarda-chuva “neopentecostal”).

Além disso, e para nossa imensa tristeza, o pentecostalismo brasileiro tem sido minado também a partir de algumas igrejas e entidades assembleianas, como certos congressos de última hora, onde pregadores supostamente pentecostais deitam ideias amalucadas e promovem performances destrambelhadas, que nada têm que ver com a fé pentecostal, de modo que as novas gerações acabam imitando péssimos exemplos.

Por tudo o que ora se registra, deixo aos leitores as mesmas conclusões que pontuei aos irmãos presentes à referida EBO, com uma proposta ao final, que, da mesma forma, dirigi ao público presente. Vejamos:

1 – Se realmente consideramos que a Bíblia é nossa regra de fé e conduta, sendo autoritativa e suficiente, devemos rejeitar o ensino de que manifestações do Espírito não precisam ter fundamento bíblico.

2 – A hermenêutica pentecostal precisa estar firme em sua posição de hermenêutica cristã ortodoxa, sem se pautar pela experiência individual ou coletiva, mas por regras aceitáveis e pelo método histórico-gramatical, consagrado pela Reforma Protestante e referido pela Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil.

3 – Precisamos encurtar a distância entre a teologia oficial e a teologia popular, o que passa pelo controle do púlpito e pelo respeito aos elementos componentes do culto neotestamentário.

4 – Não podemos proibir as manifestações genuinamente espirituais nem desprezar as emoções em si ou os fatores sociais envolvidos, mas atuar de forma pastoral, com base numa boa teologia, para mostrar o que de fato é pentecostalismo, distinguindo-o do que não é.

5 – Precisamos incentivar a busca do dom de discernimento de espíritos, pouco popular em nosso meio.

6 – Não devemos cair no Espírito – o Espírito é que biblicamente cai nos crentes em Jesus.

Por fim, a proposta do autor é que o reteté seja explicitamente reconhecido como movimento herético, alheio ao pentecostalismo; que líderes adeptos do reteté sejam aconselhados a abandonar as práticas do movimento ou assumir a possibilidade de uma disciplina ética; e que os vocacionados ao diaconato e ao episcopado sejam orientados à ortodoxia pentecostal, sob pena de não serem ordenados a tais ofícios eclesiásticos.

*Para uma reflexão sobre oralidade e corporalidade  no campo pentecostal, sugiro a leitura do artigo acadêmico “Pentecostalidade e pentecostalismo: fatores de crescimento associados à oralidade”, escrito pelo teólogo assembleiano Claiton Ivan Pommerening e publicado na Azusa – Revista de Estudos Pentecostais, no seguinte endereço: http://azusa.faculdaderefidim.edu.br/index.php/azusa/article/view/8/7

**Declarações presentes em vídeo disponível no Youtube, assim como nos casos das citações aos pastores Antonio Gilberto, Elienai Cabral, Elinaldo Renovato de Lima, Daniel Nunes da Silva, David Wilkerson e Paulo Romeiro (todos pentecostais, é bom lembrar).

***A citação do missionário e pioneiro pentecostal Gunnar Vingren foi extraída do artigo “Gunnar Vingren incentivou ‘cultos’ extravagantes?”, da lavra de Gutierres Fernandes Siqueira e disponibilizado no blog Teologia Pentecostal, no seguinte endereço: ttps://teologiapentecostal.blog/2015/10/31/gunnar-vingren-incentivou-cultos-extravagantes/

Alex Esteves
Alex Esteves

Ministro do Evangelho na Assembleia de Deus em Salvador/BA. Membro do Conselho de Educação e Cultura da CONFRAMADEB. Bacharel em Direito. Casado e pai de três filhos.

Categorias
Cultos Noticias

Igreja Episcopal quer colocar Deus com gênero neutro no Livro de Oração Comum

Livro de Oração Comum, da Igreja Episcopal
Livro de Oração Comum, da Igreja Episcopal

Desde antes dos dias da igreja primitiva, Deus sempre foi tratado em orações como um homem, incluindo termos como Pai, Rei e Senhor.

No Novo Testamento, Jesus ensinou seus discípulos a orar a Deus usando um termo masculino. Em Lucas 11: 1-4, um dos discípulos pediu a Jesus para ensiná-los a orar. “E ele lhes disse: Quando orarem, digam: ‘Pai, santificado seja o teu nome’”  (NASV)

Agora, a Igreja Episcopal está debatendo sobre a revisão de seu Livro de Oração Comum, que é usado em congregações episcopais em todo o mundo.

O debate centra-se em garantir que as orações no livro sejam claras de que Deus não é homem, mas não tem um gênero.

“Enquanto ‘homens’ e ‘Deus’ estiverem na mesma categoria, nosso trabalho em direção à equidade não será apenas incompleto. Eu honestamente acho que isso não importa em alguns aspectos”, disse a Rev. Wil Gafney, professora de Bíblia Hebraica na Brite Divinity School, no Texas, ao jornal Washington Post.

Gafney está no comitê recomendando uma mudança na linguagem de gênero no livro de orações. Como muitos outros sacerdotes episcopais, ela quer um livro de orações que sustente que Deus é maior do que qualquer gênero.

Rev. Wil Gafney
Rev. Wil Gafney

Gafney diz que quando ela prega, ela às vezes muda as palavras do Livro de Oração Comum, mesmo que os bispos episcopais não sejam formalmente autorizados a fazê-lo. Às vezes, ela muda uma palavra como “Rei” para um termo neutro quanto a gênero “Governante”. Às vezes ela usa “Ela” em vez de “Ele”. Às vezes, ela fica com a tradição masculina. “Pai nosso”, não vou mexer com isso “, disse ela, invocando o início da Oração do Senhor que Jesus ensinou seus discípulos a dizer no livro de Mateus.

Há muito separados da Igreja da Inglaterra, os líderes da Igreja Episcopal considerarão duas resoluções durante sua convenção em Austin, Texas.

Uma resolução pede uma modernização do Livro de Oração Comum, que foi revisado pela última vez há 39 anos. Segundo a igreja, uma revisão completa levaria vários anos e um novo livro de orações provavelmente não estaria pronto para uso em congregações até 2030.

Além de acrescentar linguagem neutra em relação a Deus, alguns defensores também querem outras revisões, incluindo o dever de um cristão para a conservação da Terra, adicionar cerimônias de casamento entre pessoas do mesmo sexo à liturgia (já que a igreja pratica casamentos homossexuais há anos) e até uma cerimônia para celebrar a adoção de um novo nome por uma pessoa transexual.

A outra resolução pede que a igreja não atualize o Livro de Oração Comum, mas deve passar os próximos três anos estudando o livro já existente. As raízes do livro de orações remontam ao primeiro livro de orações anglicano, publicado pela primeira vez em 1549.

O bispo de Chicago Jeffery Lee é um dos líderes da igreja que apóia a segunda resolução. O Livro de Oração Comum “realmente constitui a igreja Episcopal de maneiras significativas. Nossa teologia é o que nós oramos”, disse ele ao jornal Washington Post.

Lee diz que os eventos recentes revelaram a ele por que a igreja precisa ouvir as mulheres que estão pressionando pela linguagem de gênero neutro no livro de orações.

“Na cultura, todo o movimento #MeToo, eu acho, realmente aumentou em relevo o quanto precisamos examinar nossas suposições sobre a linguagem e particularmente a maneira como imaginamos Deus”, disse ele. “Se uma linguagem para Deus é exclusivamente masculina e um certo tipo de imagem do que significa poder, é certamente uma imagem incompleta de Deus… Não podemos definir Deus. Podemos dizer algo profundamente verdadeiro sobre Deus, mas o mistério que ousamos chamar de Deus é sempre maior do que qualquer coisa que possamos imaginar  “.

Isso inclui gênero, disse ele ao jornal – mesmo se um dos três componentes da Trindade é descrito como o Deus “Pai” de Jesus, que Deus é maior que o homem ou mulher.

Outras denominações protestantes, incluindo a Igreja Metodista Unida e a Igreja Evangélica Luterana na América, também debateram o uso da linguagem de gênero para Deus.

Em 2007, o movimento judaico reformista mudou sua linguagem de Deus em seu livro de orações para termos neutros em termos de gênero.

Fonte: CBN News